Com o desígnio de destacar e homenagear a profissão, o Centenário consultou dois médicos de Rio Claro para falar sobre as dificuldades, futuro e esperanças da profissão, são eles: o coordenador do curso de medicina do Claretiano Centro Universitário, Jair Verginio Jr.; e a rio-clarense Chiara Wehmuth, formada pela Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa de São Paulo. Foi assistente do Pronto Socorro Central da Santa Casa de São Paulo por quatro anos e agora atua em hospitais da Capital.
Jair Verginio se formou em 1992, na Faculdade de Medicina de Botucatu – Unesp, onde fez residência médica em cirurgia geral, cirurgia torácica e ficou como docente até 2003, quando se mudou para Rio Claro. O interesse pela profissão surgiu no cursinho, quando conheceu mais sobre a medicina visitando algumas faculdade e percebeu que se realizaria muito mais pessoal e profissionalmente na área.
Médica Cirurgiã Geral e Cirurgiã do Aparelho Digestivo há dez anos, Chiara Wehmuth conheceu um pouco da profissão em casa, com o pai Dr. Luiz Wehmuth Neto, acompanhando um pouco da rotina de trabalho e os desafios que surgiam a cada dia. O aspecto dinâmico da profissão foi o item essencial que a atraiu para a profissão e, claro, a vontade de ajudar as pessoas.
DESAFIOS
Sobre os desafios da profissão, Chiara destaca as novas tecnologias, que surgem a todo momento para o tratamento do paciente, além das dificuldades em lidar com a “judicialização” da Medicina, que tem permitido a interferência judicial em questões clínicas. “Atualmente, vivemos em uma sociedade exageradamente litigante, na qual até mesmo aborrecimentos corriqueiros terminam na frente de um Juiz, em todas as áreas”, aponta, destacando que, “em relação à área da saúde, e sobretudo quanto à atuação profissional dos médicos, estão muitos casos em que os pacientes buscam indenização patrimonial até mesmo onde não existem danos decorrentes de erro médico. É o caso, por exemplo, de pacientes que não seguem as orientações pós-operatório, e ainda assim tendem a buscar no médico o culpado dos danos decorrentes de sua própria falta de cuidados”.
Para Vergínio, o grande desafio será “o excesso de médicos com a abertura deliberada de novos cursos e a falta de qualidade destes, resultando em uma formação profissional deficitária, levando a um futuro incerto da profissão, mas já sob debate nos órgãos competentes”.
INTERNET
Com tantas novidades no meio tecnológico, principalmente a internet, Vergínio acredita que ela pode ajudar em alguns casos, mas também pode ser catastrófica, levando o paciente a tomar decisões próprias, sem auxílio de um médico, que poderá realmente concluir sobre o diagnóstico e o melhor plano terapêutico. “A tecnologia sempre vai acrescentar algo de bom à medicina, mas é um erro achar que ela pode substituir a atuação médica. Os exames são, na sua essência, complementares, ou seja, eles nos ajudam a certificar ou afastar uma hipótese diagnóstica e, na grande maioria das vezes, a própria história da patologia e o exame físico permitem esta conclusão sem a exposição a exames desnecessários”, opina.
Chiara concorda com o auxílio da internet e também pontua os riscos do auto-diagnóstico. “A internet pode ser uma aliada, pois permite que o paciente obtenha muitas informações sobre a sua doença, o que se reflete em maior adesão ao tratamento. Além disso, muitas vezes, o papel do médico na consulta também é organizar todas essas informações e desmistificar ‘fake news’. Com isso, o paciente não deve ser desencorajado a usar a internet e, sim, ser orientado a ter cautela com as informações e observar as fontes. Mas, claro, importante também é não querer, com base em determinados sintomas, utilizar a internet para realizar o auto-diagnóstico e realizar uma perigosa auto-medicação. As tecnologias devem existir para aproximar mais o médico e o paciente e nunca substituir o contato direto e o exame clínico. Acredito que o futuro da medicina, cada vez mais, terá como foco promover a saúde e prevenir doenças”, relata.
FORMAÇÃO
Para Vergínio, que acompanha de perto a formação de médico, destaca a necessidade de um ensino focado na humanização e no comportamento crítico e reflexivo do aluno. “É necessário resgatar a relação médico-paciente com a escuta, a atenção, o exame físico adequado, o médico entendendo a sua importância dentro de todo o sistema e a sua atuação em equipe de forma que possa não só tratar doenças, mas auxiliar na prevenção e promoção de saúde. O médico tem que ser médico”, avalia.
Por Vivian Guilherme e Murillo Pompermayer