Adoro manhãs! Em especial se for uma manhã banhada de sol após o orvalho da madrugada, quando a natureza desperta dos mistérios da noite, sempre renovada. Levantar da cama e ter o tempo livre para cuidar das plantas, plantar, podar, nutrir, ou mesmo só admirar é um sonho que demorei, mas alcancei.
Costumo levanta-me pela manhã, fazer meu cafezinho preto expresso, bem forte, e, xícara na mão percorrer meu pequeno quintal, para ver como estão minhas “meninas”, ver se em alguma pontou botão, se alguma abriu ou precisa de um cuidado especial. Olho até mesmo se já se formou outro pé-de-pássaro no vaso costumeiro, transformado em ninho.
Só que rotina também cansa. E eu, ser humano que sou, com todos seus defeitos e virtudes, tive que ocupar meu tempo com outras aventuras e, tirando o passeio matinal com elas, não mais me sobra tempo para cuidá-las.
Acostumada a trabalhar desde 12 anos, quando a vida assim o exigiu, mesmo aposentada não me sentia completa. Faltava algo para preencher meus dias, e esse algo é o trabalho pontual do cotidiano, que nos ensina e enriquece tanto, ao contrário do que são acostumados os adolescentes de agora. Só Deus sabe como se verão lá no final, ao fazer esta análise que faço agora.
Sinto falta do fazer, do escrever, do azafama das redações. Assim, como me acham velha para isso e não me dão nem um emprego-meia-boca nessa área, resolvi enfrentar o trabalho freelance pela internet.
Cadastro aqui, cadastro ali, após mil exigências, testes e provas de que realmente escrevo sobre o assunto que quiser (aprende-se na profissão de jornalismo), tive dias extenuantes e desoladores.
Mais extenuantes ainda foi o primeiro mês, primeiros trabalhos, ganhando bem pouco, só para ganhar confiança e mostrar um trabalho bem feito, como gosto de fazer.
Passado um mês, trabalhos entregues, sem grana ainda, mas pronta para uma manhã que desponta maravilhosa, com mil promessas de uma primavera sem igual. Sim, porque nenhuma primavera é igual à outra, assim como nenhum dia é igual ao outro.
Hoje, ainda sem compromissos que me exijam totalmente, como é a escrita para sites, dou-me ao luxo de voltar às minhas plantas e meditar sobre tudo que tenho aprendido e tenho feito na vida. Valeu a pena? Vale a pena recomeçar após ter alcançado a glória e a paz da aposentadoria?
Confesso que me peguei de calças curtas para responder a mim mesmo. Para assumir artigos na internet, prazos curtos para entregar o trabalho, exigências mil das tecnologias modernas, estou deixando de fazer muitas coisas que gosto.
Estou deixando de ver amigos, família distante, comemorar a vida com eles. Estou abandonando meu grupo literário, e deixando de ouvir os murmúrios e queixas de minhas flores, que por sinal vão bem sem mim, obrigada.
Sempre disse de boca cheia que, trabalhando desde menina cresci muito, envelheci cedo, pois aprendo todos os dias, e não há algo que a gente deve dizer “não sei”. Digo antes, vou tentar e aprender.
Mas passando dos 60, o cansaço bate mais forte e o dia não é suficiente para tudo que se quer fazer, o livro que se quer ler, a poesia que se quer registrar. Estou na marca do pênalty. Saúde em dia, família em paz, dinheiro para sobreviver. E mesmo assim, como diria minha mãe, “procurando sarna para me coçar”.
Mais do que uma manhã linda, hoje é uma manhã de reflexão. De avaliações. De pingos nos “is”. Quando um novo mundo acena para mim, além do tempo, da correria, das preocupações, das crenças e desejos, até mesmo além do que amealhei ou deixei de amealhar, surge a dúvida: o que aprendi na vida toda?
A resposta não tarde: aprendi a trabalhar, mas não aprendi a ganhar dinheiro. Apendi apenas, vejo agora, aquilo que a gente leva a vida inteira para aprender e teima em desconsiderar: desta vida não se leva nada.
E de tudo que vivi, de tudo que amealhei, só tenho de valor minha família, meus amigos e meus escritos. Nua aqui cheguei. Desnuda partirei. De preferência em uma manhã qualquer, pois eu adoro manhãs!