Há 11 anos, Renata Vilela, 34 anos, renasceu. Seu segundo nascimento foi possível após sua madrinha, Andrea Reusing, ter doado um dos rins para o transplante. O procedimento foi realizado no Hospital do Rim e Hipertensão, em São Paulo, por meio do Sistema Único de Saúde (SUS).
O Brasil é, segundo a Associação Brasileira de Transplante de Órgãos (ABTO), o segundo país do mundo em número absoluto de transplantes. É também, de acordo com o Ministério da Saúde, o maior sistema público de transplantes do mundo. Atualmente, cerca de 95% dos procedimentos realizados em todo o país são financiados pelo Sistema Único de Saúde (SUS).
“Apesar de se chamar sobrevida, eu não sinto que tenho uma sobrevida. Sinto que tenho uma vida plena, satisfatória. Posso trabalhar, posso estudar, posso namorar, posso produzir, posso sonhar. O que é muito diferente de quando você está em um tratamento de diálise, que te impede de viajar. É como se ela [a madrinha] tivesse me dado à luz pela segunda vez. A minha mãe me deu à luz pela primeira vez; a minha madrinha, pela segunda vez”, disse Renata, à Agência Brasil.
“Tenho 34 anos e um rim de 65 anos que garante que eu possa viver plenamente e ser feliz. Minha madrinha devolveu a minha capacidade, e não só a capacidade de sonhar, mas a possibilidade real de fazer isso, de transformar meus sonhos em realidade. Hoje eu trabalho com uma coisa que amo, moro em uma cidade que amo, tenho possibilidades de estudar, de conhecer pessoas, de me relacionar, de trabalhar por aquilo que acredito e isso tudo eu devo à segunda vida que minha madrinha me deu”, acrescentou.
DOAÇÃO
A negativa familiar é um dos principais motivos para que um órgão não seja doado no Brasil. No ano passado, 43% das famílias, segundo a Associação Brasileira de Transplante de Órgãos (ABTO), recusaram a doação de órgãos de seus parentes após morte encefálica comprovada.
Dados do Ministério da Saúde mostram que, no ano passado, das 6.476 entrevistas familiares para autorização de doação, houve 2.716 negativas, somando 42%, número que vem se mantendo praticamente constante ao longo dos anos.
“O transplante só pode ocorrer se houver doação de órgãos”, ressalta Valter Duro Garcia, médico responsável pelos transplantes renais na Santa Casa de Porto Alegre e editor do Registro Brasileiro de Transplantes, além de membro do Conselho Consultivo da ABTO. “Se eu estivesse na lista [de espera por órgão], eu iria gostar de receber [o órgão]. Então, por que não doar? A doação é uma troca. E há muito mais possibilidade de uma pessoa estar na fila [por um transplante] do que ser um doador, três a quatro vezes mais possibilidade”, disse.
Uma das razões para a recusa dos parentes em doar órgãos é a falta de conhecimento sobre o que é a morte encefálica, um processo “absolutamente irreversível”, segundo o médico.
“Para ser doador, tem que ter morte encefálica, que é quando há uma lesão grave na cabeça [o que pode acontecer] após se levar um tiro, ter um acidente de trânsito, principalmente por moto. Ter um tumor no cérebro ou meningite, por exemplo”, explicou. Quando o cérebro para de funcionar, acrescenta, a pessoa para de respirar, e só continua respirando por meio artificial. Nesse momento em que ocorre a morte encefálica é que os médicos procuram a família para pedir autorização para que os órgãos dessa pessoa possam ser doados. “Um doador pode salvar até oito pessoas”, lembra Valter Garcia.
Por Agência Brasil