No ato que marcou nessa segunda-feira (23) os 25 anos da chacina da Candelária, a ativista Yvonne Bezerra de Mello, primeira defensora dos direitos humanos a chegar ao local após o massacre, diz que praticamente não há mais sobreviventes do episódio, entre os 70 que dormiam na porta da igreja no centro do Rio de Janeiro naquela madrugada. Oito pessoas morreram no ataque feito por policiais naquele 23 de julho de 1993.
“A maioria está morto. Eu tenho o mesmo número de telefone e meu último contato com eles foi há 4 anos. Um morreu de bala perdida na Maré e uma menina morreu de doença, ela já tinha problemas. Os outros, talvez um esteja vivo, o Sérgio, que era testemunha. Os outros, se estivessem vivos, entrariam em contato comigo”, disse Yvone.
Ela lamenta o destino dos sobreviventes e se diz frustrada até hoje por não ter conseguido melhorar a vida delas: “depois da chacina eu peguei as crianças e levei pra debaixo de um viaduto onde fiz um arremedo de sala de aula. Eu tenho uma história longa com essas crianças e aos poucos elas foram morrendo. Isso é muito triste, eu não consegui salvar aquelas crianças”.
Ela lembra do episódio do sequestro do ônibus 174, no dia 12 de junho do ano 2000, quando Sandro Nascimento, um dos sobreviventes da chacina, manteve passageiros reféns por cinco horas e acabou morto pela polícia. “Eu penso muito. Quando teve o ônibus 174, o Sandro foi na janela três vezes e disse ‘chama a tia Yvonne, ela vem aqui, ela resolve’.
Eu só vi isso depois quando vi o filme, não tinha celular na época. Então eu sou uma parte da vida deles que foi boa. Não ter podido fazer o que eu faço hoje com o Uerê [projeto no qual trabalha] com as crianças da Candelária é uma frustração, mas eu não tinha como, na época”.
Agência Brasil