Bolsonaro conseguiu o impossível: transformar os incêndios que ocorrem todos os anos na Amazônia numa crise internacional, em que o Brasil, vítima do fogo, é punido com represálias de importadores, como se fosse culpado. É dupla tragédia: na hora de apagar o incêndio, nos obrigam a explicá-lo, a combater a imagem de poluidores, de réus. Bolsonaro, falando sem parar, se colocou como inimigo do meio-ambiente, das minorias, até da democracia.
Há incêndios criminosos – há também os naturais, os causados por descuido, as queimadas para remover resíduos da colheita e preparar a terra para novo plantio. Criminosos têm de ser capturados e presos (o Governo demorou a agir); descuidados devem pagar multas altas e trabalhar na restauração da mata (isso ainda não ocorre). Mas deixar que tradicionais poluidores nos acusem é consequência de más declarações do presidente.
O fogo deve acabar logo, com as chuvas. Mas provar aos importadores que couro não sai da mata, que não há soja sem transporte, que boiada só existe onde há frigoríficos, sal, vacinas, isso atinge as exportações. Bolsonaro teria coisas boas a dizer: inflação e juros oficiais baixos, as reformas que os investidores tanto reclamam estão sendo votadas. Mas prefere o atrito, o conflito, o desrespeito (como atacar a esposa do presidente francês por sua aparência física). Queima a imagem do país. Prejudica o futuro não só de seu Governo, mas também o da população brasileira.
Exemplo vizinho – Há incêndios gigantescos na Amazônia boliviana. Mas deles ninguém fala: o presidente Evo Morales, que além de não mobilizar o país para enfrentar os incêndios muda a lei a toda hora para se eternizar no poder, que preside um grande produtor de drogas, sabe que é hora de ficar em silêncio.
Um pouco de ação – A má imagem trazida pelo fogo começa a ser combatida. Nove ministros vão à Amazõnia. Bolsonaro marcou reunião com líderes de outros países amazônicos e conversou com a primeira-ministra alemã Angela Merkel.
Imagem dos procuradores – O Ministério Público Federal pediu pesquisa à FSB sobre sua imagem. Há questões sobre MPs estaduais, o STF, a Procuradoria Geral da República, mulheres, minorias, LGBTS, meio-ambiente, Assessoria de Imprensa, Informações. Querem saber, sempre, como são vistos pelos jornalistas.
Lula livre? – A decisão da Segunda Turma do Supremo Tribunal Federal, de anular o julgamento de Aldemir Bendine, presidente do Banco do Brasil e da Petrobras na era PT, provocou um terremoto jurídico. Bendine alegou que os delatores premiados funcionam, de fato, como auxiliares da acusação; assim, quem não delatou deve depor por último, podendo responder a todas as acusações. Por essa tese, o julgamento de Lula deverá também ser anulado, e ele posto em liberdade. Mas o ministro Edson Fachin, voto vencido, pediu que as decisões futuras sejam tomadas por todo o plenário do STF, não só pelos cinco ministros que formam cada turma.
Depende do plenário, pois, aceitar ou não a tese. Bendine já está solto. Os meios jurídicos se dividiram: de um lado, a lei não prevê a divisão entre réus delatores e não-delatores; de outro, como se defender de acusações que só serão feitas mais tarde?
Atenção – O governador de São Paulo, João Dória, busca transferir para seu PSDB gente importante do esquema Bolsonaro. Conquistou o apoio de Paulo Marinho, do Rio, em cuja casa operou o QG bolsonarista; e transformou em tucano o deputado federal Alexandre Frota. Agora, disse a Sergio Moro que, se sair do Governo Federal, terá espaço no Governo paulista.
Eis o Queiroz! – Há meses desaparecido, Fabrício Queiroz, que foi assessor de gabinete do deputado estadual (hoje senador) Flávio Bolsonaro, foi achado pela revista Veja. Estava no café do Hospital Albert Einstein, onde se trata de câncer. Foi o protagonista de um caso ainda não esclarecido, em que movimentou quantias que dificilmente poderia ter obtido só com seus salários. Depositou R$ 24 mil na conta de Michelle, esposa de Bolsonaro. O Ministério Público supõe que o dinheiro venha de um “rachid”, que consiste em receber de cada funcionário do gabinete uma parte de seu salário. Queiroz nada falou a Veja.
O SUS e os remédios – O SUS está passando um recado esquisito à população: é melhor recorrer à Justiça para receber remédios caros. Medicamentos para a epilepsia, que atinge uns 2% da população, já deveriam há meses estar na lista do SUS, e não estão ainda. Mas 90 pacientes que entraram na Justiça e obrigam o SUS a gastar com eles R$ 100 milhões por ano já aguardam que o remédio entre na lista, mesmo sem ter ainda cumprido todas as etapas normais. Tradução: é melhor ir à Justiça do que aguardar o processo normal do SUS..
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