Aos 133 anos, o Diário já esteve presente em diversos marcos da história brasileira, sendo um deles a abolição da escravatura na cidade. Três meses antes de Princesa Isabel assinar o documento que garantia liberdade aos negros, mais especificamente em 5 de fevereiro, ocorreu a libertação em Rio Claro, no Jardim Público.
Já na edição de 7 de fevereiro de 1888, o jornalista José David Teixeira registra a lendária festa da Abolição Municipal, que contou com a participação de bandas, discurso de populares e apoio dos moradores. “O largo do Teatro e muitas casas da cidade estiveram brilhantemente iluminados”, conta a notícia original.
Na época, a libertação foi vista como alternativa devido a grandes fugas e rebeliões que já deixavam o sistema em crise. Logo, diferentemente do que é passado, o negro não é agente passivo, sendo ele o conquistador de sua liberdade. Outro grande fator que influenciou nesse acontecimento foi a pressão popular que ocorria desde o início do século XIX.
Complementando as dificuldades de se manter um sistema baseado nesse regime, o preço do escravo havia caído drasticamente e as grandes capitais, São Paulo e Rio de Janeiro, pararam de aceitar negros como garantia para empréstimo.
Apesar de apoiada por grande parte da população e até mesmo pelos fazendeiros da época, a abolição municipal não foi acatada por todos.
Durante a festa, havia entre os habitantes algum medo de revolta, como demonstra a matéria do dia. “Terminada esta notícia, folgamos em declarar que a paz não foi alterada, realizando-se tudo na melhor ordem possível.”
Essa esperada revolta por parte da elite aconteceu do outro lado da moeda.
Os escravos, que haviam sido libertados devido a uma série de medidas já adotadas, não participaram da festa.Essa forma de protesto silêncio buscava confrontar a “benevolência” que era encenada durante o evento.
A cidade nascida às margens de um rio é conhecida por ser a segunda do Brasil a ter energia elétrica, porém, quando se trata da questão abolicionista, Rio Claro deixou a desejar. Mesmo após o dia 5 de fevereiro, alguns fazendeiros da época se recusaram a libertar seus escravos, acatando a ordem apenas quando a Lei Áurea foi assinada.
De fato, um jornal com tanta história é um marco para a cidade. Já nos seus dois primeiros anos em circulação, o prestígio era grande, como evidenciado na festa de abolição: “Terminados no largo do Teatro os festejos, desceu o povo acompanhado de duas bandas de música pela Avenida 1, saudando, em sua residência, o redator desta folha (Diário), que mereceu do excelentíssimo barão de Grão Mogol uma brilhante saudação”.
Por Gabriele Castaldi