Depois de muito tempo, nós conversávamos de novo. Tudo era diferente. Os lugares, as pessoas, e nós mesmos. Havia alguns minutos que tudo o que fazíamos era nos olharmos por um instante ou dois, não diretamente nos olhos, mas aquele olhar cauteloso, que oculta um coração desconfiado.
Fingíamos observar o movimento no bar à nossa volta mas, na verdade, o pensamento ia longe. De início, senti-me incomodado com a presença dela, e percebi que o que ela sentia em relação a mim não era nenhum pouco diferente.
“Você precisa voltar a fumar, voltar a beber, e fazer sexo”. – disse ela quebrando, enfim, o silêncio.
“E quem disse que não faço mais essas coisas?”
“Seus olhinhos, querido. Andam muito tristes”.
“Recomendações médicas para um senhor de 50 anos. Eu”.
“Como tudo passou tão rápido! – ela disse – Não é mesmo? Quantos anos faz que nos conhecemos?”
“Não sei. Nunca parei pra contar”.
“Acha que é possível parar o tempo?”
“Acho que não”.
“E o que fazemos com isso?”
“Com o quê?”
“O tempo.”
“Damos uma sova nele.”
Ela riu. E não pude deixar de perceber que o branco admirável dos seus dentes haviam desaparecido.
“Me paga uma bebida?”
“Isso é o de menos.
“E qual o problema, então?”
“É o que vem depois.”
“Você não se preocupava com essas coisas naquele tempo.”
“Eram outros tempos.”
“Tempos de farra.”
“Eram, sim.”
“Mas você gostava daquele tempo?”
“Sim, eu gostava.”
“E gostava muito.”
“Sim, eu gostava muito.”
“Desejaria que voltassem aqueles tempos?”
“Sinceramente, não.”
“Eu já penso diferente.”
“Percebo.”
“Como você me vê agora?”
“Muito mal.”
“Mas naquele tempo, não. Você me achava bonita.”
“É verdade.”
“E não acha mais?”
“Não.”
“Ok. Diante disso, pode ir embora se quiser.”
“Não, eu não vou. Não, sem antes lhe pagar uma bebida.”
“Pague duas, então, querido. Seja bonzinho”.
Paguei-lhe uma bebida e um maço de cigarros. A bebida era um refrigerante. O maço de cigarros, de chocolate, daquele que comprávamos quando íamos ao cinema.
Ela lembrou-se disso, e quando apanhou o maço de cigarros, uma lágrima escorreu-lhe pela face, e molhou um pouco o seu tímido sorriso.
Levantei da mesa em que estávamos sentados, disse-lhe adeus e nunca mais a vi. Fui embora levando em meu coração a certeza que eu procurara até aquele dia; amores nascem e morrem.