Na campanha de reeleição de Dilma Rousseff, o marqueteiro João Santana esfregou na nossa cara um boneco chamado Pessimildo, um senhorzinho ranzinza que reclamava da situação do país. A publicidade queria mostrar que quem protestava, apostava contra o país.
Não preciso dizer que o Pessimildo estava com a razão. A economia desorganizada, setor elétrico sofrendo com o ativismo heterodoxo, desemprego, dólar e combustíveis em alta, inflação acima da meta e juros reais aumentando. Pouco tempo depois, após cometer crime de responsabilidade e sem apoio congressual, veio o afastamento.
Com a entrada do vice Michel Temer em cena, as perspectivas se alteraram positivamente. Críticas à parte, muito foi feito neste curto período conturbado de grave crise fiscal e política. Com equipe econômica competente e boa relação com o congresso, preparou o país para um novo ciclo de crescimento com a Reforma Trabalhista e a PEC do Teto.
O desemprego parou de aumentar e começou a cair lentamente. O mesmo aconteceu com o índice de investimento que estava em queda vertiginosa desde 2015 e teve leve aumento a partir de 2017. Após as mudanças positivas no sistema de exploração do Pré-Sal e a Reforma do Ensino Médio, não foi possível continuar a tramitação da Reforma da Previdência após o fatídico “Joesley day” em maio de 2017, quando o presidente fora gravado conversando com o empresário da JBS. Politicamente fragilizado e em ano eleitoral, em maio de 2018 enfrentou a maior greve de caminhoneiros já vista no país, com sérias consequências para economia. Encerrou seu ciclo como o mais impopular presidente desde a redemocratização do país.
Escrevi um texto sobre o golpe de 1964 com o título que parafraseava o livro de Zuenir Ventura, “1968: O Ano Que Não Terminou”. Não à toa, meu título foi “2064: O Ano Que Já Começou.” Precisamos olhar para o passado como referência e com reverência aos virtuosos e não com simples saudades, querendo que tudo volte como era antes. Temos que projetar nosso futuro.
A Reforma da Previdência é necessária, mas insuficiente. Estancará o aumento do déficit público que continuará existindo sem novas reformas. A solução para o crescimento econômico sustentável, está no aumento da taxa de investimento que no Brasil, está perto de 15% do PIB e não uma nova CPMF, como quer Paulo Guedes. Dados recentes de 2018 do FMI, mostram que investimos menos do que 90% dos países do mundo. A média mundial está em 26%, a média dos emergentes em 33% e América Latina mais Caribe está em 20%.
O investimento em infraestrutura é o que pode trazer maior benefício econômico e no saneamento básico traria enorme retorno social, com melhoras no emprego e nos índices de saúde pública. Com cerca de 35 milhões de brasileiros sem acesso ao serviço de água, mais de 100 milhões sem coleta de esgoto e metade do esgoto coletado sem tratamento, temos muito a fazer a partir de uma boa reforma do marco legal, atraindo investidores internacionais.
Mas não, Pessimildo, em pleno processo de aprovação da Reforma da Previdência, o mais importante é o presidente indicar seu filho para o mais alto cargo da diplomacia mundial, como embaixador em Washington, com o incrível currículo de já ter fritado hambúrguer nos Estados Unidos, durante um intercâmbio estudantil.
Bom apetite.