Admito. Fui dar uma espiada no novo clipe da cantora Madonna, God Control, publicado no canal oficial da pop star no YouTube. Até o momento em que cometi o desatino, eram quase 500 mil visualizações.
E imagino que entre os curiosos que acessaram o vídeo estão os robôs programados para alavancar o sucesso dos artistas na atualidade, fãs saudosistas, feito eu, e jovenzinhos dispostos a saber quem é a coroa boazuda, cantora e dançarina que abalava as pistas de dança, os inferninhos e os corações puritanos nos anos 1980 e início dos 90.
God Control começa com uma advertência sobre cenas de violência que virão em seguida. Algo de causar inveja aos bons e velhos western spaghetti, filmes italianos de baixo orçamento, tão em moda, nos cinemas nos anos 1960.
A meu ver, cenas desnecessárias, de corpos espalhados pelo chão, exalando sangue pela boca, vítimas de disparo de armas de fogo, cujo uso, a bonita pretende abominar. Mas, nos tempos em que vivemos, cenas de violência gratuita parecem mesmo ser indispensáveis, seja na música, no cinema ou na tevê.
Depois, Madonna, nos fundos de uma boate, nos subúrbios provavelmente de Nova York (como não?), vestida com trajes masculinos, ares de intelectual, e dando uma de poeta lisboeta (como não?), tenta romper o famigerado bloqueio criativo. Xô, sai pra lá, estrupício!
Segue-se a matança na boate onde se passa o clipe, e lá pelo minuto 2 e meio e alguma coisa dos mais de 8 de duração do vídeo, rola, enfim, uma canção dançante, meio break, meio rap, meio fim de mundo, algo que a deusa loira, sinceramente, na minha modesta opinião, já fez melhor.
E, às 9:50 PM, o horário das pessoas chiques conforme indica o vídeo, a poeta, digo, Madonna, coloca ponto final no seu processo criativo. Fim.
Tudo está consumado. Os corpos espalhados pelo chão da boate já foram recolhidos. Agora, se vê passeatas nas ruas, reivindicando com faixas e cartazes, liberdade, direitos iguais e fim da violência. Isso é Madonna! Am?
A camaleoa resiste, não resta dúvida. Surfa com rara habilidade e nenhum constrangimento nas ondas que surgem e se desfazem muito rapidamente no meio musical de uns anos para cá. Em meio a tanto lixo que a indústria fonográfica lança a cada minuto, Madona ainda se salva. Pode crer.
God Control talvez engate uma segunda, nas Bilboards da vida, por uma ou duas semanas, o que não será nenhuma façanha pra quem já foi única no meio do show bussines, mas que hoje parece querer reencontrar a si mesma. Não creio que seja possível. O tempo é implacável para todos.
Inclusive Madonna. Mas a sorte dela e a nossa, é que Deus está no comando. Assim, esperamos nós. Eu e ela. Não sei você, leitor.