De caçadores-coletores passamos ao consumo e descarte excessivos! Na trajetória do ser humano moderno, uma cultura consumista e descartável foi estabelecida, sendo estimulada no século 19 com a Revolução Industrial, passando pela sua intensificação nas décadas de 40 e 50, quando o modelo estadunidense “american way of life”, devido ao desenvolvimento do capitalismo no pós-guerra, ditou um padrão de vida nos países industrializados.
Este padrão foi copiado por outros países ocidentais e, desde então, sua influência resultou numa imensa ilha de resíduos sólidos que permeia as atividades do ser humano, gerados nos mais diversos contextos da sociedade.
Quando digo ilha, para além do sentido literal, também chamo atenção para um estudo publicado no periódico científico Scientific Reports que retrata sobre a gigantesca mancha no oceano Pacífico de 1,6 milhão de quilômetros quadrados composta por resíduos, considerada uma das catástrofes ambientais produzidas por nós como resultado de um descarte inadequado de materiais, sobretudo, plásticos.
Assim, a geração excedente de resíduos e o seu descarte inadequado são atualmente um grande problema socioambiental!
Em verdade te digo que geramos resíduos, não lixo, e vou lhe explicar o porquê.
O fato é que resíduos se diferem de lixo pois podem ser convertidos em ganhos ambientais e socioeconômicos. Como? Por meio da coleta seletiva.
Na Universidade Federal de São Carlos (UFSCar) é desenvolvido o Programa de Coleta Seletiva Solidária que destina os resíduos gerados pela instituição às cooperativas de catadores de materiais recicláveis.
A contribuição na esfera ambiental é a reintrodução de resíduos no processo industrial por meio da reciclagem, o que reduz a extração e o uso de finitos recursos naturais. No campo social, há a geração de renda e trabalho de mulheres e homens que prestam serviço à cadeia produtiva da reciclagem, que incrementa a economia urbana e minimiza os gastos públicos no uso de energia elétrica e outros insumos.
O desafio agora é a elaboração de indicadores como ferramentas de análise e monitoramento para que este programa se torne ainda mais efetivo, maximizando seus benefícios e envolvendo toda a comunidade acadêmica neste processo.
Então, imagine o retorno socioeconômico e ambiental para o Brasil ao seguir à risca a sua Política Nacional de Resíduos Sólidos (Lei 12.305/10): se houvesse, por exemplo, a reciclagem de todo o plástico gerado anualmente (10,5 milhões de toneladas) haveria um retorno de R$ 5,7 bilhões à economia e 6 milhões de toneladas anuais de metano deixariam de ser liberadas na atmosfera atenuando também a mudança climática.
E diga-se, de passagem, que este mesmo gás poderia ser reaproveitado como fonte de energia alternativa, de acordo com uma pesquisa do SELURB (Sindicato Nacional das Empresas de Limpeza Urbana).
Enfim, da ideia de LIXO passamos a concepção de RESÍDUOS que carregam consigo um potencial social, econômico e ambiental e que pode ser utilizado em benefício da sociedade.
- A autora é é bióloga, artesã e mestranda do Programa de Pós-Graduação em Ciência, Tecnologia e Sociedade (PPGCTS- UFSCar).
Por Silvia Helena Flamini