Generosidade é a palavra que define a entrevistada desta semana. Não foi à toa que escolhi Neuzeli Cássia Domingos de Morais para ser a entrevistada da Coluna REC, pois minha dívida de gratidão com a Neu é imensa! Afinal, foi a responsável pela minha aproximação ao jornalismo. Logo que terminei a Graduação em Letras, a entrevistada de HOJE me indicou para o cargo de revisora em um extinto jornal – isso sem ao menos me conhecer direito -, o que foi o início da minha carreira de jornalista.
Inquieta, Neuzeli é uma pessoa que gosta de desafios. Além de jornalista, esteve à frente da pasta de Desenvolvimento Econômico e Relações do Trabalho e respondeu pela Diretoria de Administração e Planejamento. Já fundou e foi diretora de partido político [nos anos 1980], de ONG Ambiental [anos 1990], de moto clube [anos 2000] e, mais recentemente, de um recém-inaugurado Rotary Club de Rio Claro, o Alvorada. Atualmente, atua como empresária e corretora de imóveis. No currículo, algumas especializações e uma segunda graduação [Gestão Empresarial, na FATEC] que está prestes a concluir. Em meio a tudo isso ainda é mãe, esposa e avó! Difícil? Neuzeli responde: “Conciliar tudo não é difícil quando a gente ama o que faz e tem família e amigos que apoiam”.
Como surgiu a oportunidade de trabalhar na imprensa? “Assim que passei no vestibular de jornalismo, em 1988, minha mãe viu um anúncio no Diário para uma vaga no administrativo e sugeriu que mudasse de emprego para ter ideia de como seria a rotina de jornal. Na entrevista, o gerente perguntou o que eu fazia e, ao revelar que estudava comunicação, comentou que tinha vaga na Redação. Fui apresentada ao Redator Chefe, fiz o teste e virei foca [estagiária]. Trabalhei com grandes profissionais da área, como o saudoso Irineu de Castro, a Silvia Venturoli e o José Roberto Santana, que me ensinaram e muito.”
Na imprensa de Rio Claro você passou por vários veículos, mas também inovou ao trabalhar para agências. “Sim. Comecei no Diário e fiquei por cinco anos; na Rádio Itapuã fiz transmissão de carnaval e flashes de entrevistas com autoridades e candidatos aos cargos de Prefeito, Governador, Senador e até Presidente. Fui convidada a trabalhar na assessoria de imprensa da Prefeitura no penúltimo ano de mandato de Azil Brochini e fiquei três anos do governo seguinte. Comecei a fazer uns freelas [bicos] como revisora à noite e em uma agência chamada Enfase. Nessa época, também escrevia para o Jornal Regional. Participei da elaboração da Revista Troféu Imprensa da TV Rio Claro [hoje TV Claret]. Trabalhei na agência ZP+ por oito anos e depois na Publish, antes de atuar como Gestora Pública. Tenho mais de 30 anos de profissão, como fotógrafa, diagramadora, revisora, repórter e redatora.
Como vê a imprensa em Rio Claro? “Diria que está em um momento ascendente, pois a renovação do Diário certamente despertará a necessidade de renovação e inovação de outros veículos resultando em melhor qualidade e maior diversidade de notícia. É um ganho extraordinário para a comunidade.”
Como você enxerga o atual momento no Brasil? “Muito parecido com Rio Claro em questão de política e administrativa, ou seja, precisando de políticos mais comprometidos e qualificados e uma população que seja mais atuante, que vote com seriedade e fiscalize. A máquina pública brasileira está inchada e ineficiente, abrindo espaço para a corrupção. Economicamente só vai melhorar depois das eleições, pois os investidores aguardam a definição do próximo governo. O que incomoda é a falta de incentivo aos empreendedores, o que dificulta a geração de empregos e de riqueza para o Brasil.”
Desde outubro você mora em Osasco onde assumiu o desafio de atuar como corretora de imóveis da maior imobiliária da América Latina, além disso inaugurou uma conveniência aqui em Rio Claro com seus filhos e sócios e está desenvolvendo o projeto de um blog. Com todas essas funções de liderança, você percebe que ainda há preconceitos com a mulher? “O preconceito existe porque alguns homens nem se dão conta de que são machistas. Se a mulher não tiver atitude, encarar e ocupar espaço, não será ouvida.”
Você percebe diferenças entre a sociedade rio-clarense dos anos 1990 e a atual? “Muita. Nos anos 1990 as pessoas pareciam mais dispostas e felizes, apesar das dificuldades. Todos se ajudavam mais. Também sentia uma aura de glamour e requinte, que foi desaparecendo com o tempo. Parte da nossa Cultura está se perdendo, porque hoje não se dá valor à História, à Educação e à Arte de maneira geral.”
CARA A CARA
QUEM É NEUZELI: Ainda não consegui definir, mas com certeza é alguém que está sempre em busca de desafios. Adoro ler, fazer coisas novas e trocar ideias e experiências. Feliz e realizada, sem medo das adversidades, pois aprendo com elas. Alguém que procura ser útil e grata a vida.
RIO CLARO: Cidade amada em que nasci e que carece de muita coisa, principalmente de segurança!
JORNALISMO: Imprescindível que seja feito com profissionalismo!
INESQUECÍVEL: Família.
PARA ESQUECER: O que não faz falta.
SAUDADE: Meu pai.
EXPECTATIVA: Concretizar meus projetos e ver os filhos realizados.
UM LUGAR: Praia.
UM MOMENTO: Hoje.
UM ÍDOLO: Deixei de cultuar personagens.
UM SONHO POSSÍVEL: aquele pelo qual trabalhamos.
UM SONHO IMPOSSÍVEL: Aquele que desistimos de realizar.
UMA FRASE: “A vida é uma dádiva: curta demais para ser desperdiçada e fascinante para ser vazia.”
UMA COMIDA: Feita por minha mãe.
UMA BEBIDA: Água sem gás.
UMA PALAVRA QUE A DEFINA: Inquieta.
PINGA FOGO
MUDARIA DE CALÇADA AO CRUZAR COM: Pessoa em atitude suspeita.
MAL MAIOR: Doença.
NÃO MERECE O MEU RESPEITO: Arrogância.
A POLÍTICA É: Mal compreendida pelo povo e está mal empregada pelos políticos.
NÃO SIMPATIZO, MAS RESPEITO: O ignorante.
NÃO RESPEITO, MAS SIMPATIZO: Respeito é imprescindível, simpatizar é opcional.
Por Vivian Guilherme