A rotina da Consultora de Beleza Independente Vanessa Donata de Sousa Dias é bem puxada, horas do dia divididas entre o trabalho, captação de clientes e, claro, os serviços domésticos. Muitas vezes chega em casa por volta das 21 horas.
“Eu faço quando tenho tempo, entre uma coisa e outra, coloco roupa para lavar, saio para atender cliente novamente, volto, organizo mais alguma coisa. Minha filha ajuda um pouco com a louça, organização do quarto dela. Faço jantar, deixo para o almoço. Tudo vai de acordo com minha agenda de trabalho”, disse.
O marido sai 7 horas da manhã e fica até às 18 horas em um dos trabalhos, porém às 18h30 já entra em outro emprego e só chega em casa por volta de meia noite o que fica complicado ajudar nos afazeres. “É uma cultura da sociedade os homens ajudarem pouco em casa, muitos foram criados assim, algo que precisa ser mudado.
Ainda é a minoria que compartilha. Na minha casa, já teve evolução. Eu quero fazer uma rotina para a família. Temos que compartilhar as tarefas sim. Confesso que com a rotina dele e com os projetos que idealizamos, não tenho cobrado, por falta de tempo dele. Mas em breve vamos alinhar sim. Lembrando que não é ajudar é cada um fazer a sua parte”, declarou.
Assim como a Vanessa, a realidade da maioria das mulheres é a mesma. Mesmo com tantos direitos alcançados e com a mudança de comportamento de muitos homens que passaram a dividir as tarefas nos cuidados com a casa e com os filhos, as mulheres ainda dedicam mais horas os afazeres domésticos, o dobro que os homens. É o aponta a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (PNADC) referente a outras formas de trabalho, divulgada nessa sexta-feira (26), pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
O levantamento mostra que a quantidade de horas dedicadas para a realização de afazeres domésticos e cuidados com pessoas é maior entre as mulheres do que entre os homens. São 21,3 horas semanais dedicadas pelas mulheres em 2018, já entre os homens o número de horas dedicadas para as mesmas tarefas é de 10,9 horas semanais.
E tudo isso é porque a mulher acaba se revezando em várias coisas ao mesmo tempo, como lavar uma roupa e cuidar do filho. A pesquisa inclui além dos afazeres domésticos e cuidados com os familiares, trabalho voluntário, produção para o próprio consumo, categorias definidas como outras formas de trabalho pela Organização Internacional do Trabalho (OIT) durante conferência internacional, em 2013.
Conforme publicou o IBGE, a situação no mercado de trabalho também pouco impactava na jornada doméstica feminina. Mesmo trabalhando fora, a mulher cumpria 8,2 horas a mais em obrigações domésticas que o homem também ocupado. A diferença era ainda maior entre homens e mulheres desempregados. Nessa condição, elas trabalhavam 11,8 horas a mais que eles.
Os dados também mostraram que na condição de cônjuge ou companheira, as mulheres trabalhavam ainda mais, chegando a alcançar 97,7% delas, enquanto entre os homens, na mesma situação, a incidência foi de 84,6%.
“Observando os últimos três anos, houve um crescimento da participação masculina no trabalho doméstico, porém, as mulheres continuam sendo maioria e dedicam mais horas mesmo em situações ocupacionais idênticas a dos homens. Isso revela uma realidade distante na equiparação de tarefas no domicílio”, comenta a analista da pesquisa, Maria Lúcia Vieira.
Das sete atividades pesquisadas em afazeres domésticos, a mulher foi maioria em seis. Cozinhar foi a tarefa com a maior diferença entre os sexos, com incidência de 95,5% entre as mulheres e 60,8% entre os homens. A presença masculina foi maior apenas em “fazer pequenos reparos no domicílio” – 59,2% entre eles e 30,6% entre elas.
A mulher também era maioria em todas as cinco atividades pesquisadas em cuidado de pessoas, que leva em conta a responsabilidade por crianças, idosos ou enfermos. A diferença entre homens e mulheres era maior em atividades como auxiliar nos cuidados pessoais e educacionais e menor em ler jogar ou brincar e transportar ou acompanhar em escola, médico e exames.
“A diferença entre sexos no cuidado de pessoas não se mostrou tão discrepante quanto em afazeres domésticos, mas a mulher, além de cumprir mais tarefas, também tem peso muito maior em obrigações mais essenciais nos cuidados do dia a dia”, finaliza a analista do IBGE.