Desde adolescente senti o peso da solidão. E sei que não estou sozinha nessa barca. Creio que ela nasce com a gente, enrosca-se em nosso viver como uma Medusa de mil cabeças, por cujos olhos espiamos a vida passar, sem ter coragem de vivê-la plenamente.
E a gente vai espiando, espiando, mas fica de longe, olhando tudo, com vontade de estar lá. Mas quando está, quer voltar. Assim aconteceu comigo e sinto que acontece com muitos jovens, atualmente. É uma fera incrível que nos domina e nos manieta sem dó, impedindo que exploremos a vida como ela deve ser explorada.
Lembro-me bem dos bailes no Grêmio e no Ginástico em minha mocidade. Toda galera estava lá. Às vezes eu ia e, mesmo em meio aos amigos, sentia-me só, feia e triste. Olhava de longe, pouco dançava e logo ia embora, sozinha, com minhas mil cabeças pensantes…
Mas sempre procurei direcionar as cabeças da Medusa para coisas edificantes, como escrever poesias e participar da comunidade de jovens da Igreja Santa Cruz, onde fiz alguns poucos amigos e me envolvi com a preparação litúrgica da missa dos jovens.
Fui direcionada aos famosos encontros de então: Vocacional, Treinamento de Liderança Cristã – TLC, dentre outros. Ali ficava melhor, pois sentia-me alvo de atenção e amor, o que não era demonstrado em meu lar sem pai, onde minha mãe não o recebia para dar de volta aos seus seis filhos.
Nesses encontros ninguém estranhava meu choro constante e a luta que travava para encontrar a mim mesmo, para encontrar a minha verdadeira cabeça, entre tantas que faziam parte de mim e tomavam as rédeas de minha vida sem pedir licença.
Busquei em alguns namoradinhos a outra metade da laranja, sempre com muito amor. Até que as cabeças da medusa se esconderam e me permitiram casar e viver a maternidade por duas vezes, sem medo de ser feliz. Consegui sufocar a fera existente em mim por alguns anos…
Conforme minhas duas filhas foram crescendo, as serpentes, aos poucos, foram brotando de novo em minha cabeça. Mesmo casada e com filhos, voltei a sentir-me só. Separei-me, busquei outros amores e uma profissão.
Aquietei a fera com 30 anos de jornalismo e muitas atividades na área.
Hoje, aposentada, a Medusa renasce aos poucos, impulsionando minha vida como um barco à deriva. Quando estou prestes a cair em uma corredeira, nocauteio todas elas com minha vontade de viver e os sonhos que ainda não realizei. Fortalecida, sigo em frente, até encontrar águas mais calmas.
Pergunto-me, então, se estes jovens que trocaram o dia pela noite, em diversões nem sempre saudáveis, conhecem de perto a Medusa que os impele, a solidão que os leva a procurar beijos em qualquer e muitas bocas, sexo promíscuo e até mesmo drogas.
Ao amigo que me lê, eu afirmo com conhecimento de causa que a Medusa que existe em cada um de nós é forte, mas pode ser dominada ou direcionada. Em último caso, dê-lhe um nocaute com uma boa dose de amor próprio, mas não deixe que a fera com suas mil faces o leve para o fundo do abismo.
A vida é bela e todos merecem vivê-la em sua plenitude. Mesmo que a solidão persista, o amor ainda existe. E pode ser sua melhor opção.
Obrigado amigo. Quando a gente amadurece, consegue ver esta medusa e suas mil cabeças, conseguindo direcioná-las melhor para o que realmente interessa na vida: o amor, em todas suas formas e cores. O objetivo foi, realmente, proporciona a reflexão. Quem sabe um maior número de pessoas reflitam mais sobre esta Medusa que existe em todos nós e possm direcionar melhor o amor que sente, proporcionando bem estar aos que os cercam e a si mesmo. A solidão existe, mas o amor tem que vencer!
Puxa!!! Falou um pouco de mim. Eu fui uma dessas pessoas tímidas por conta da beleza, ou falta dela, abraçadas à solidão em meio a tanta gente. Tive também minha medusa a envenenar meus pensamentos, e, ao meu tempo, também encontrei motivos para viver a vida plenamente.
Entrei na sua narrativa pela porta dos olhos, vivi e respirei cada passagem, como se fosse eu mesmo, o personagem.
Guardada a diferença temporal e geográfica, e as atividades de ofício, você resumiu um pouco de mim. Sai da sua história pelas portas do coração.
A vida é bela sim! O amor existe, mesmo em meio a solidão!
É por isso que toda vez que repasso minha vida, e uma lembrança mais triste tenta acordar a medusa que deixei adormecer no esquecimento, me lembro de um pensamento de resignação de Francisco Cândido Xavier: “Eu sou apenas o sapo carregando a vela. Embora reconheço que sou o primeiro a ser iluminado, frequentemente, cai uma cera quente e machuca.”
Belo texto, Nilce! Quem o ler com os olhos do coração terá motivos para profundas reflexões!
Parabéns, com “éns” a se perderem no infinito!