Estamos diante de uma revolução sem precedentes na televisão, e nas comunicações. Durante décadas, desde o seu surgimento, a televisão brasileira se fundamentou sobre princípios rígidos e padronizados internacionalmente.
A construção da TV Globo e seu padrão de qualidade calcaram-se sobre estes princípios invariáveis durante muitos anos. Além de importarem e praticarem conceitos já bem estabelecidos nas emissoras norte-americanas, tiveram a feliz ideia de colocar um telejornal, o Jornal Nacional, entre as novelas da sete e das nove. Nascia aí o horário nobre, que persiste até hoje com muito sucesso.
Desde as melhores cores a serem usadas nos cenários, roupas, cortes de cabelo, modo de falar, luzes, tudo se estabeleceu com o tempo à custa de muita pesquisa e experimentalismo.
Formaram-se gerações de telespectadores, com programas que atingiam crianças, jovens, adultos e idosos ao mesmo tempo.
E há mais de seis décadas a família brasileira se sentava na sala para assistir televisão. O hábito era coletivo. Antes dela chegar, era o rádio que reunia todos em volta dele, para ouvir as radionovelas, o repórter Esso, as cantoras e cantores do rádio.
Com o surgimento da televisão, muita gente na época decretou a morte do rádio, coisa que não aconteceu, ainda bem. O que aconteceu foi que o rádio apenas deixou de ser uma experiência de consumo familiar. Virou individual.
Nos campos de futebol, nos fones da moçada pelas ruas, nos carros, o hábito de ouvir rádio foi transformado com o advento da televisão. E o rádio continua muito forte.
É um meio de comunicação fantástico que pode ser ouvido enquanto se faz outras atividades, além de prestar serviços preciosos a quem está no trânsito nas grandes cidades. O rádio mexe com a nossa imaginação e tem um alcance enorme, e sempre terá.
E o que estamos vendo já não é mais uma tendência. A televisão como a conhecemos já foi superada por ela mesma.
Com a TV Digital no ar para quem quiser, com sinal disponível em multiplataformas, sobretudo nos celulares, o hábito de assisti-la coletivamente já concorre fortemente com o hábito individual, do mesmo modo que ocorreu com o rádio há décadas. As telas estão em todos os lugares, nos ônibus, táxis, Ubers, na palma da mão.
Os serviços de streaming, como o Netflix, são a convergência de televisão e internet numa mesma plataforma. Isso possibilita novos serviços e interatividade inimagináveis por meio dos conteúdos híbridos. E não há limites para a interatividade.
Em breve, enquanto assiste ao Jornal Nacional, por exemplo, você poderá clicar em algum ícone no cenário interativo do telejornal para poder ler com mais profundidade a notícia exibida em algum site, ou ainda obter mais detalhes sobre os indicadores econômicos do dia. Durante o anúncio publicitário, imediatamente poderá, com um clique comprar o produto ou saber mais detalhes sobre ele.
Aliás, o maior nó ainda a ser desatado parece estar justamente na publicidade no que diz respeito a atingir o público correto. Grandes agências já pensam em novos modelos de negócios e mecanismos de atender um mercado consumidor mais individualizado no hábito de assistir televisão.
Identificar preferências de telespectador/internauta e com base nisso enviar o pacote de anúncios a ele é apenas uma das múltiplas ideias.
Nesse futuro que se aproxima uma coisa parece certa. O que não perderá importância de jeito nenhum é o conteúdo.
Cada vez mais a produção de conteúdos para essa nova televisão terá de ser intensa para atender ao público e seus mais variados gostos, e que a leva agora para todos os lugares, longe do altar onde estava, na sala da casa.