O último dia 4 de abril entrou para a história, devido a uma foto que tomou conta das agências de Notícia do Mundo todo – a primeira imagem de um buraco negro na história da humanidade.
Essa foto agitou a comunidade científica de todo o mundo por vários motivos: comprova uma teoria desenhada há mais de 100 anos pelo gênio Albert Einstein, abrirá novas linhas de pesquisas acerca do Espaço e do Tempo e mudará livros escolares de ciência em todo o mundo.
A imagem não captura exatamente o buraco negro, mas a luz sendo sugada pelo buraco da mesma forma como a água entra em um ralo, em seu “horizonte de eventos”. E o que tem de tão espetacular nisso?
Trata-se do resultado de um trabalho de décadas, um triunfo da tecnologia e da engenhosidade humana, com base na Teoria da Relatividade Geral, de Albert Einstein. Essa observação abrirá portas para a observação de muitas outras coisas aparentemente impossíveis de serem observadas.
Até essa data, a humanidade nunca havia visto, de fato, um buraco negro. Sua existência era prevista com base na Teoria da Relatividade Geral, elaborada por Einstein no ano de 1915, que fornece uma descrição unificada da gravidade como uma propriedade geométrica do espaço e do tempo, ou espaço-tempo, ou seja, Albert Einstein fez uma previsão teórica de algo que só veio a ser fotografado mais de um século depois.
Não é “apenas” uma foto….
É uma foto do passado, que demorou cinco dias para ser tirada e dois anos para ser gerada, que necessitou de um telescópio virtual do diâmetro da Terra e gerou cinco petabytes de informação (5000 Tb), que equivalem a cinco milênios de músicas MP3 tocando ou selfies tiradas por 40 mil pessoas ao longo de toda a vida!
Essa quantidade de dados não pode ser enviada pela internet, então teve que ser armazenada em muitos HDs e transportadas de avião até um supercomputador.
É a foto de um buraco negro que tem 40 bilhões de quilômetros de diâmetro, cerca de 3 milhões de vezes o tamanho de nosso planeta. Ele é maior que o nosso Sistema Solar, mas ainda assim, seria como enxergar uma fatia de pizza na superfície da Lua.
Os telescópios de vários locais da Terra tiveram que apontar exatamente ao mesmo tempo para esse exato local, sincronizados por relógios atômicos, tendo apenas alguns dias no ano para que as condições fossem perfeitas. Montaram uma elaborada rede de radiotelescópios que transformaram o planeta Terra em um grande radiotelescópio de mais de 10.000 km de diâmetro.
É a foto de um objeto que está a 55 milhões de anos-luz de distância da Terra, que se encontra no núcleo da Galáxia M87 ou seja, a luz que captamos demorou 55 milhões de anos para chegar até aqui – nessa época o homem ainda não habitava o planeta Terra. Isso mesmo, essa é uma foto do passado – estamos vendo como o buraco negro era há 55 milhões de anos atrás!
É a foto de um objeto que tem uma massa 6,5 bilhões de vezes maior que a do Sol. Sua densidade é extraordinariamente alta. É como se comprimíssemos todo o nosso planeta no tamanho de uma bolinha de gude (pequena).
Trata-se de um feito científico extraordinário levado a cabo por uma equipe de mais de 200 pesquisadores, de quatro continentes, que utilizou um elaborado algoritmo, coordenado por uma jovem cientista de 29 anos. Há muita matemática, física e computação envolvida.
É uma foto de algo que existia apenas na Teoria, que foi previsto por uma das mais brilhantes mentes da humanidade, a mente de Albert Einstein, há mais de 100 anos – sim, o “vovô” estava certo, mais uma vez! O objeto também foi muito estudado por Stephen Hawking.
A Ciência é LINDA!
Vivemos em uma época em que uma parcela da população tenta desacreditá-la. Em meio a movimentos “anti-vacina” e grupos de “Terraplanistas”, há pessoas que se dedicam a realizar estudos para encontrar a cura de doenças como o câncer, que aprimoram tratamentos médicos, processos de colheita e de produção de alimentos, tratamentos de resíduos entre tantas outras benfeitorias. A Ciência não é perfeita, isso é verdade, mas é um dos bens mais preciosos da humanidade.
Para alguns, a Ciência provoca muitos danos colaterais – descoberta da radiação trouxe a destruição de uma bomba atômica, mas trouxe o tratamento que ajuda a curar o câncer.
A utilização do fogo trouxe iluminação, calor e alimentos mais abundantes, e de melhor qualidade, e a possibilidade de incêndios premeditados e da condenação à morte por uma fogueira. A escolha entre o bem o mal cabe, e sempre coube, ao homem.
Sem essa ciência, voltamos à Idade Média, onde passamos de produtores de conhecimento para meros utilizadores de conhecimento e isso é devastador para qualquer nação.
Que não percamos a capacidade de nos encantarmos com as pequenas e as gigantes empreitadas da raça humana, e com a maravilha do Universo…
Essa é uma foto que nos faz refletir… Se tudo isso é possível, imaginem o que não faríamos se nossas esforços fossem direcionados para ajudar as pessoas do planeta, ao invés de nos destruirmos mutuamente? Ciência e Educação fazem toda a diferença!
Essa não é “apenas” uma foto… É a foto!
E não tem como não se apaixonar por isso…
Prof. Huemerson Maceti – Físico
Coordenador Pedagógico – Colégio Puríssimo
Coordenador/Professor de Física – Centro Universitário da Fundação Hermínio Ometto – FHO
Artigos sobre Buracos Negros, escritos pelos professores do Colégio Puríssimo e do Centro Universitário da Fundação Hermínio Ometto – FHO:
SHORT REVIEW ON BLACK HOLES – LEVADA Celso Luis, MACETI Huemerson, LAUTENSCHLEGUER Ivan José. Disponível em:
https://www.worldwidejournals.
“A astronomia é útil porque nos eleva acima de nós mesmos; é útil porque é grande, é útil porque é bela; isso é o que se precisa dizer. É ela que nos mostra o quanto o homem é pequeno no corpo e o quanto é grande no espírito, já que nesta imensidão resplandecente, onde seu corpo não passa de um ponto obscuro, sua inteligência pode abarcar inteira, e dela fluir a silenciosa harmonia. Atingimos assim a consciência de nossa força, e isso é uma coisa pela qual jamais pagaríamos caro demais, porque essa consciência nos torna mais fortes.”
Henri Poincaré – em O Valor da Ciência (1904)