Gostaria de escrever sobre a Reforma da Previdência, sobre Reforma Tributária, sobre investimento na rede de saneamento básico, sobre as notas do Brasil no PISA, sobre comércio internacional, protecionismo econômico, etc, mas ainda estamos amarrados a um passado do qual alguns não querem sair.
O Brasil parece uma crisálida que não consegue romper o casulo.
Enquanto outras nações evoluem a passos largos, investindo com eficácia em educação, ciência e tecnologia, buscando o bem-estar da população, ficamos imóveis no casulo, pouco enxergando o que se passa lá fora.
Já se passaram 55 anos do fatídico 31 de março. Alguns não querem chamar o golpe de golpe. A Junta Militar, autointitulada de Comando Supremo da Revolução, fez publicar em 9 de abril o Ato Institucional número Um, ou simplesmente AI-1, que afirma: “A revolução vitoriosa se investe no exercício do Poder Constituinte.
Este se manifesta pela eleição popular ou pela revolução. Esta é a forma mais expressiva e mais radical do Poder Constituinte. Assim, a revolução vitoriosa, como Poder Constituinte, se legitima por si mesma.” Traduzindo, houve uma revolução com quebra da ordem jurídica, vulgo golpe.
Mas o povo esteve nas ruas com 400 mil pessoas na Marcha da Família com Deus pela Liberdade. A imprensa, partidos políticos, igreja e militares pedindo que algo fosse feito. O contexto era propício. Desde 1889, o país vinha passando por golpes. Tínhamos saído da ditadura Vargas e de seu período como presidente eleito quando trocou a vida pela história em 24 de agosto de 1954, evitando ou adiando outro golpe militar. Estávamos no período conhecido como Guerra Fria, com fortes tensões entre Estados Unidos e União Soviética, procurando nos reorganizar internamente.
Em 1955, Juscelino Kubitschek foi eleito, tendo João Goulart como vice, mas quase não assumiu, porque Carlos Lacerda tramava contra a sua posse. Lacerda conseguiu asilo na embaixada de Cuba. O ano fecha com crescimento de 8,8% e 12,2% de inflação.
Em janeiro de 1959, Fidel Castro toma o poder em Cuba e vem visitar o Brasil no mês de maio. Juscelino rompe com o FMI, Brizola nacionaliza uma concessionária americana de eletricidade no Rio Grande do Sul e os Estados Unidos iniciam a Guerra do Vietnã. 1959 encerra com PIB de 9.8% e inflação de 39,4%.
A eleição de Jânio Varre, varre vassourinha Quadros e Jango como vice em 1960 era o prenúncio de problemas e confusões num mundo tenso entre capitalistas e comunistas. Jânio visitou Cuba durante a campanha e condecorou Che Guevara após eleito. Não suportou a pressão e renunciou. Ocorre que os militares eram contra a posse de Jango e o Brasil institui o parlamentarismo, com Tancredo Neves como Primeiro Ministro. PIB de 9,4% e inflação de 30,4%.
Até o início de 64, a temperatura política só aumenta. Neste período temos a crise EUA-Cuba no seu auge, enquanto o Brasil reata relações diplomáticas com os soviéticos. 1962 termina com PIB de 6,6% e inflação de 51,6%.
Em 1963, enquanto o general Castelo Branco comandava o Estado Maior do Exército, o país retorna ao presidencialismo, Lacerda prega um golpe militar contra Jango e o PIB fica em 0,6% e a inflação bate nos 79,9%. Um quadro geral muito ruim.
No comício da sexta-feira, 13 de março de 64, na frente da Central do Brasil, Jango decreta estatização de refinarias de petróleo particulares e fala sobre fazer reforma agrária “na lei ou na marra”; e Brizola defende o fechamento do Congresso. A reação da sociedade foi imediata. Dias depois, o povo estava marchando.
Mas os militares sentiram a real necessidade de agir, por causa da quebra de hierarquia dos marinheiros amotinados, apoiados pelo governo. O general Mourão Filho, comandante da 4ª Região Militar (Juiz de Fora, Minas), rebela-se e comanda a sua tropa em direção ao Rio. Jango vai para o Rio Grande do Sul e o 31 de março acontece. 1964 termina com PIB de 3,4% e inflação de 92,1%.
A partir daí, depois de tantas mortes, torturas, sequestros, desaparecimentos, direitos cassados, exílios, censura e bombas trocadas, tivemos a Lei da Anistia em 1979, para todos. Chega. Ditadura Nunca Mais!