No fim da tarde, a reportagem é recebida no estabelecimento Ubar, localizado no bairro rural Ubá, em Itirapina, com o drink extrema-unção.
Trata-se de uma mistura de vodka e undeberg especialmente preparada pelo gentil proprietário, Júlio Álvaro de Faria, o conhecido Julião. A bebida é uma das atrações do local e abre o caminho para uma cervejota gelada e alguns quitutes da melhor categoria.
Para quem não conhece, Ubar é um misto de bar descolado e pousada no meio da natureza e de uma decoração incrível. Com uma iluminação intimista e com cadeiras de madeira espalhadas pelo local. Aliás, é difícil de saber se você está dentro ou fora do ambiente, já que garrafas de bebidas estão espalhadas harmoniosamente pelo local. E detalhe: todas cheias. Um misto de confiança e segurança de comerciante que vive o ambiente que oferece aos clientes.
Julião começou o negócio em 1990, em uma área adquirida pela família, que é de Itirapina, e chegou no local em 1888. “Minha mãe, que estava morando em São Paulo, decidiu retornar para Itirapina para ficar com a família, pois acreditava que não ia viver muito tempo. Por fim, ela viveu até os 91 anos de idade”, contou à reportagem.
Diferente de seus descendentes, ele nasceu em Rincão, no Estado de São Paulo. O pai era dentista, mas gostava de aventurar-se e a família se mudou diversas vezes. “Não lembro de ter passado mais de três anos em uma escola só. E isso foi muito bom para o que seria meu futuro trabalho”, diz.
Aos sete anos, foi para Itirapina e nos anos seguintes foi para santos, Jundiaí, Leme, Marília, até chegar em São Paulo. “Morei em muitos lugares e depois fui para São Paulo, onde fiquei até minha primeira missão”, conta ao destacar que era mórmon.
As histórias do proprietário são uma atração à parte em Ubar. O turista que quiser conhecer o lugar precisa dedicar um tempo para ouvir toda a trajetória dele, que saiu em sua primeira missão internacional em 1968. “Nunca pensei em ter um bar e muito menos em vir para Ubá. Minha vida estava traçada com os mórmons, mas então comecei a trabalhar na empresa Alcântara Machado, especializada em feiras ao redor do mundo. Isso mudou tudo”, diz.
“Era uma vida louca. Nunca decidi muito as coisas que foram acontecendo na minha vida. Mas por dez anos viajei o mundo representando a empresa”, reflete. Foram dez anos, do final dos anos 70 até os anos 80, que somam o grosso de suas experiências.
A empresa, na época, prestava serviço para o governo militar, que tinha como objetivo apresentar o que era produzido no país para alavancar o desenvolvimento. “De máquina de moer a carrinho de mão. Tudo que era produzido no país era levado para essas feiras que eu era responsável por organizar e montar. Fazia em torno de três a quatro feiras por ano”, diz ao se lembrar que era muito organizado e mantinha entre seus pertences uma agenda com todos os compromissos.
Atualmente, quem conhece Julião sabe que sua figura descolada e inteirada com os acontecimentos mundiais, da cultura à política, jamais usaria o objeto para auxiliar em suas atividades. Aos 73 anos de idade, ele avalia que esses dez anos foram difíceis. “O que eu faço hoje é moleza perto daquele período”, destaca. Ele é responsável não só pelo bar, mas pela manutenção e organização do local, mesmo contando com ajuda da esposa, de dois funcionários, além dos filhos quando retornam do exterior (ambos são modelos).
Julião passou por mais de 50 países durante a vida, que estão refletidos na decoração do local, que com simplicidade alcança um nível requintado de forma harmoniosa. Para os amantes de tranquilidade, bom papo, natureza e ambiente diferenciado, Ubar é uma das melhores pedidas da região.