O número de professores no Brasil passa de 2,5 milhões, segundo dados do Inep. Desse total, 70% são mulheres.
Enquanto elas ainda são minoria no mercado formal ou na área da pesquisa científica, na docência elas dominam.
O pesquisador, doutor em Física Aplicada, José Dirceu Vollet Filho, acredita “que a docência nos ciclos mais básicos da formação teve historicamente um estímulo para mulheres por tratar em sua maioria de crianças, associando o papel que a sociedade atribuiu (e muitas vezes ainda atribui) às mulheres de cuidar e de educar filhos”.
Por outro lado, aponta que a pesquisa científica, como a maioria das atividades do gênio humano, foi (e ainda é) influenciada pelo caráter patriarcal e machista da sociedade, valorizando mais os homens nesses papéis. “Apesar de sempre ter havido mulheres muito relevantes produzindo conhecimento, não houve valorização na maioria dos casos e as que a tiveram, precisaram batalhar muito para obtê-la. E ainda é assim hoje, embora, aos poucos, tenhamos visto mudanças em ambos os casos.”
A professora Vania Maria Luccas Duarte afirma que, historicamente, a profissão tinha um olhar mais feminino, por apresentar uma visão ligada à mulher mãe e também pela falta de espaço que a mulher tinha nas outras profissões consideradas mais masculinas.
“Hoje vemos uma grande mudança nesse olhar e mais homens passaram a trabalhar no magistério, vejo como um fator muito positivo, pois trabalhar como professor deve ser um direito de todos que gostam, se envolvem e têm uma visão de uma educação de qualidade, seja homem ou mulher”, afirma a docente que atua na Escola Municipal Marcello Schmidt.
Para a professora Ana Maria Cabral de Oliveira, embora o magistério não esteja calcado em questão de gênero, é comum, e natural, a mulher ocupar este espaço. “Talvez por refletir a figura materna, do acalanto no ninar, no abraço maternal, na paciência, na meiguice, na doçura e na sua infinita bondade.
A figura materna é mais específica na primeira etapa da educação infantil até o último ciclo do Ensino Fundamental 1, justamente por ser considerada uma extensão da formação moral e intelectual recebida em casa. Já no Ensino Fundamental 2, Ensino Médio e Universitário, a figura masculina ganha seu espaço”, opina a professora, que hoje é vice-diretora da Escola Municipal Antônio Maria Marrote.
Ana Maria descreve que com o desenvolvimento urbano/industrial, exigiu-se a expansão do ensino. “A procura pelos homens por oportunidades mais rentáveis e a consequente falta de oportunidades de trabalho para as mulheres, fez com que mulher deixasse seu trabalho na indústria, para ocupar uma vaga na área educacional.
Em um sistema patriarcal, em que era obrigação do homem prover financeiramente sua família, a remuneração da mulher era somente a complementação do salário do homem. Estudos demonstram que de um lado temos a educação básica marcada pela baixa escolaridade, baixos salários, baixa especialidade e alta atuação de mulheres. E de outro, a educação superior com profissionais de alta escolaridade, altos salários, alta especialidade e maior atuação masculina”, explica.
LUTAS
Vânia relata que a mulher está ganhando espaço e se colocando como protagonista na formação da nossa sociedade, mas ainda “há um longo caminho para superar algumas posições que ainda trazem a visão da mulher submissa e dependente, que não cabem mais nos dias atuais”. “A mulher, nas suas conquistas diárias, mostra cada vez mais a sua importância, pois ela ajuda a formar, seja como mãe, professora ou em qualquer profissão, o futuro da sociedade que queremos.”
Ana Maria diz que, infelizmente, ainda existe uma desigualdade mundial se comparados os mesmos cargos e na mesma área de atuação. “A mulher deve focar cada vez mais nas suas habilidades e competências.
Nós, mulheres, somos privilegiadas por sabermos nos comunicar, se sensibilizar, saber ouvir. A intuição feminina é um fator determinante na tomada de decisões, que são ferramentas essenciais para quem almeja uma liderança e principalmente para quem quer alicerçar em um mercado altamente competitivo, não importando a questão de gênero e sim de merecimento.”
TRAJETÓRIA
Vânia conta que vem de uma família de professores e faz parte da terceira geração, portanto, os exemplos foram fortes, mas conta que, independente da história familiar, nunca se imaginou em outra profissão. Professora de arte, trabalhou por anos na rede estadual e como coordenadora pedagógica. Hoje, atua como docente na Escola Municipal Marcello Schmidt.
Ana Maria começou a galgar no magistério com 16 anos e há seis se afastou da sala de aula para ocupar a função de vice-diretora. A paixão pela docência surgiu ainda na infância, quando brincava de professora com as bonecas. Depois de cursar o magistério, fez Licenciatura em Educação Física e, após formada e trabalhando na Prefeitura Municipal de Rio Claro e no Colégio Integrado, foi cursar Pedagogia.