A crise na Venezuela tomou mais uma proporção com a decisão do governo Maduro de fechar fronteiras para impedir que cheguem ajudas humanitárias de outros países, como do Brasil.
Na tarde dessa sexta-feira (22), como divulgou a Agência Brasil, o avião da Força Aérea Brasileira, transportando ajuda humanitária à Venezuela, decolou da Base Aérea de Brasília, pousou em Boa Vista, capital do estado de Roraima, transportando 23 toneladas de leite em pó, e 500 kits de primeiros socorros.
O porta-voz da Presidência, Otávio do Rêgo Barros, disse em entrevista à imprensa, no Palácio do Planalto, que o Brasil manterá o planejamento de ajuda humanitária à Venezuela, mesmo após o presidente venezuelano, Nicolás Maduro, anunciar o fechamento da fronteira. Segundo o porta-voz, a estimativa é fazer chegar à região fronteiriça alimentos e remédios neste sábado (23).
O Diário do Rio Claro conversou com a professora de espanhol e bióloga com doutorado pela Unesp em biologia vegetal, Blanca Auxiliadora Dugarte Corredor, que veio da Venezuela para o Brasil em 2012, quando ganhou bolsa de estudos. Chegou a voltar para o país de origem, mas retornou ao Brasil em 2016 com pedido de refúgio.
“Nossa volta foi justamente porque não aguentamos a situação de pegar fila para comprar alimentos básicos (isso, tendo sorte de encontrar), além disso, falta de medicamentos, insegurança, ficar com a incerteza se você vai comer no outro dia. Só tem um dia na semana para comprar os produtos básicos, só o que tiver, e isso é só pelo último número da cédula (RG)”, relatou.
A professora tem mais dois irmãos no Brasil, porém, na Venezuela tem outros irmãos e os pais. Ela conta como é triste ver a situação do povo “É insuportável, ninguém pode, nem merece viver nessa situação, saber que o salário que recebe não alcança ou também ter o dinheiro e não achar produtos para comprar.
Não ter uma refeição normal porque sempre está em falta alguns alimentos, comer muito pouco para que todo mundo consiga comer. Por isso voltamos, não era agradável ver meu filho ficar com fome.”
ESTRATÉGIA
“O governo não quer que todo mundo saiba que a Venezuela tem essa crise, ele não vai reconhecer nunca, por isso ele não aceita a ajuda humanitária. Eles até falaram diante de outros governos, em reuniões da ONU e OEA, que o venezuelano está muito bem, que pelo menos comem três vezes ao dia, eles não se importam em mentir”, avaliou.
DIFICULDADES
Os problemas vão além quando o assunto é saúde. Blanca tem casos de perto. Inclusive, com mortes por falta de tratamento. “Olha, as dificuldades são todas! Principalmente as pessoas que já faziam um tratamento como, por exemplo, diabetes, câncer, hipertensão, hormônios e mais.
Se ainda estão vivas, estão com a saúde cada vez mais debilitada. Tenho muitos exemplos como o meu pai, ele fez um cateterismo, então tem que tomar um medicamento, ficava meses sem tomar, ele é hipertenso, tem que tomar duas vezes por dia e só estava tomando uma vez. Teve AVC e deu paralisia, em novembro ficou internado por 15 dias porque ficou com uma infecção, o tratamento foi difícil de achar e ainda muito caro.
O sogro da minha irmã, por não fazer o tratamento para diabetes, adoeceu e morreu… o sogro do meu irmão está também doente por não ter tratamento para diabetes, praticamente estão esperando ele morrer”, lamentou.
Segundo informações passadas a ela por uma prima que é médica, crianças e idosos estão morrendo por desnutrição. “Ela me disse que no ano passado, por dia, morriam seis crianças só no hospital onde ela trabalha”, relatou.
AJUDA DE RIO CLARO
De grupos de Rio Claro já foram enviados mantimentos. A professora faz parte de um grupo de mulheres venezuelanas que faz arrecadação, chamado Projeto Amazonas. “Enviamos para lá e as pessoas que recebem entregam para as ONGs. A coordenadora, entre outras, está em Campinas, as demais em outras cidades do estado de São Paulo. Agora, estamos enviando medicamentos que foram doados”, disse.