O problema pode aparecer já no início: envolver-se em um relacionamento pensando fortemente que o outro tem a missão de te fazer feliz.
Poxa vida, quanta expectativa em cima de uma pessoa só! Está aí um dos caminhos tortuosos para a desilusão. Estar com alguém, amando, é uma evolução rumo à realidade. Imagine só, fazer com que o outro tenha essa “obrigação”, esse peso nos ombros, sendo que muitas vezes caminhamos meio sem saber o que, de fato, é essa tal felicidade.
Quando começa, tudo são flores, e não é mais a razão quem responde em nós. A paixão em alta, lá no comecinho de namoro, ou casamento, nos leva a idealizar a pessoa, com olhos de lince para as qualidades e pouca visão para aquilo que nos incomoda. Com o passar dos anos, essa visão se inverte, e a tendência é enxergarmos bem de perto muitos dos defeitos. É quando o que chamamos de amor é colocado à prova. “A emoção acabou/Que coincidência é o amor/A nossa música nunca mais tocou…”, nos versos do eterno Cazuza.
Nessa fase, exageradamente realista, vem a frustração. E com ela o desejo daquele eterno recomeço. “No comecinho do namoro você era tão diferente… Me dava flores, chorava comigo, fazia tudo por mim”, diz um ao outro numa discussão, sem pensar muitas vezes que aquela era uma fase de conquista, onde atos que fugiam da rotina eram comuns na relação. Passada a fase da conquista, a ansiedade abaixa e o comodismo emocional passa a imperar. Afinal, ninguém consegue representar um papel por uma vida inteira!
Os sinais de que uma relação vai mal podem levar algumas pessoas ao desespero. Rapidamente se desdobram para tentar reverter a situação. Algumas medidas a serem tomadas, porém, podem ser ainda mais danosas.
Promessas mirabolantes que não podem ser cumpridas, usar a sedução artificialmente para tentar reaproximar o outro. O psicanalista Contardo Calligaris faz uma analogia interessante. Diz ele que os apreciadores de charutos sabem bem que não é recomendável tentar reacender um charuto que já apagou. O gosto é péssimo. Assim, continua o psicanalista, são os relacionamentos quando acabam. Se uma parte fica ainda tentando a todo custo reacender essa chama de paixão perdida, pode provar algo que não seja do seu gosto.
A primeira coisa a se fazer então é refletir se acabou mesmo, se não dá mais para continuar e assumir esse compromisso com a sua verdade interior.
Não há receita, fórmula pronta. Cada casal tem seus acordos tácitos ou explícitos, sua maneira de viver, de perdoar os erros do outro, de valorizar ou minimizar os defeitos em cada um. Por isso, seguir o coração, sempre tendo a razão como guia, desde o começo de uma história de amor pode ser um bom caminho para um amor duradouro. Quem dera eu soubesse a fórmula. Mas o bom da vida é não tê-las! Uma vida bem vivida é aquela em que há momentos que você gostaria que se repetissem infinitas vezes. Se for assim ao lado de quem ama, tanto melhor!