Decisão da Universidade Estadual Paulista publicada no Diário Oficial do Estado em dezembro de 2018 expulsou 27 alunos que se autodeclararam negros ou pardos por meio do sistema de cotas.
A expulsão aconteceu depois de comissão interna considerar as autodeclarações inválidas.
A comissão foi instaurada para apurar as fraudes no final de 2017. As expulsões aconteceram com alunos dos campus de Registro, São José dos Campos, Bauru, Ilha Solteira, Litoral Paulista, Araraquara, Botucatu, Araçatuba e São Paulo. Outros casos seguem em averiguação, já que a universidade possui unidades em 24 municípios do Estado.
Segundo informação da Unesp, para este ano a expectativa é conseguir aprimorar o processo e iniciar a averiguação logo após a matrícula.
A universidade garante ainda que os alunos tiveram a chance de recorrer internamente antes de a reitoria determinar o desligamento, e acredita não ter cometido nenhuma injustiça.
DECISÃO CORRETA
Para o presidente do Sindicato do Químicos, Francisco Quintino, a ação da Unesp é correta. “É uma questão absolutamente polêmica a classificação racial de ser ou não ser negro. A primeira identificação, naturalmente, é visual, determinante. No entanto, há influências de tonalidades diversas devido à miscigenação que ocorre entre grupos étnicos.
Tem também o aspecto científico que pode contribuir para definição, bem como a autodeclaração, desde que comprovada descendência no histórico familiar. Acho que a ação da Unesp é correta, caso tenha observado, depois dos cuidados das avaliações, que se tratou de falsidade ideológica dos interessados”, explica.
DEFESA DA COTA
Quintino defende as cotas por considerar que, nos 519 anos de Brasil, cerca de 350 a sociedade viveu em um regime escravocrata. “Ainda hoje se verificam os efeitos que prejudicam diretamente a maioria de negros e negras, nas relações de trabalho e serviços públicos.
Enquanto ocorrer o desequilíbrio e disparidades sociais decorrentes do histórico de exclusão, haverá necessidade de buscar alguns mecanismos para minimizar a situação. E cotas, mesmo não sendo eficientes, são um meio de se buscar algo”, opina.
POUCA EFETIVIDADE
O jornalista Emerson Augusto acredita que o sistema de cotas só atingirá seus objetivos, caso seja implantado desde o ensino fundamental. “Colocar um jovem sem base sólida educacional em uma classe universitária pouco vai contribuir com sua principal formação profissional”, defende.
Sobre a expulsão dos 27 alunos que não foram considerados negros ou pardos pela instituição, foi taxativo: “regras são regras. Precisam ser respeitadas”.
O jornalista destacou que possui dois filhos afrodescendentes em escola particular, sem bolsa de estudos, e outro que cursa a universidade sem utilizar o sistema de cotas.