No dia 8 de dezembro de 1980, quando Mark Chapman atirou à queima-roupa em John Lennon, pouca gente se deu conta de que, em meio à tragédia, inaugurava-se uma triste fase da sociedade: a midiatização.
Chapman, como todos sabem, matou o ex-beatle para ganhar fama. E ganhou. Preso há mais de trinta anos, chegou a dizer que se sentia como um cavaleiro das Cruzadas. Psicopata de primeira ordem, o assassino de John Lennon tornou-se emblemático também para a identificação de uma nova faceta da sociedade global.
O fenômeno da midiatização ocorre entre nós, pessoas ditas normais, de uma maneira bem mais prosaica e pode ser bem observado no comportamento das pessoas.
A criança que esperneia, chora e se joga no chão para a mãe comprar o caderno do Bob Esponja; a adolescente meio menina, meio mulher, cheia de “atitude”, que só veste roupas de grifes famosas; a mãe que “precisa” fazer uma plástica, e o pai que troca de carro todo ano. Nesse jogo, onde nunca há satisfação plena dos desejos, todos almejam um objetivo inconsciente: ser aceito, ser reconhecido pelos outros e, enfim, conseguir se destacar dos demais.
Ansiamos por agradar a todos e, na grande maioria das vezes, nos esquecemos de nós mesmos. São poucos, ou ninguém, os que vão pela própria cabeça.
A evolução deste fenômeno, sem dúvida, é essa ânsia pela fama. A ideia da pessoa famosa, livre dos problemas quotidianos, amada e paparicada por todos onde quer que esteja, seduz a todos. Porém, em muitos casos o excesso de fama e sucesso são equivalentes ao excesso de fracasso. Exemplos não faltam: Michael Jackson, Britney Spears, Marlon Brando, Whitney Houston, e muitos e muitos outros.
A expectativa criada pelos meios de comunicação faz com que as pessoas pensem que uma pessoa plenamente feliz é a que consegue atingir a riqueza material e a fama. O desejo é latente nas pessoas. Sair da multidão e passar a ser objeto de culto a qualquer custo é o que se quer.
Se antigamente a fama era a consequência de um trabalho artístico, por exemplo, hoje ela se esvaziou. Não precisa haver nenhum motivo para ser famoso.
Há ainda a exclusão social tão presente no Brasil e qualquer parte do mundo que leva as pessoas a buscarem incansavelmente um emprego, ou qualquer forma de ganhar dinheiro, que garanta escalar rumo ao topo da sociedade. A isto se junta a decadência dos relacionamentos familiares modernos, quando pais e filhos conversam e se entendem cada vez menos.
Pronto. Está montado o cenário para a onda em busca da “celebridade instantânea”. Uma forte necessidade de ser aceito socialmente e ter “segurança existencial”.
Se procuramos por uma realidade edulcorada, inatingível para compensar nossa rotina sem graça, o mercado já sabe disso e mais do que depressa criou uma nova “necessidade” entre tantas que nos bombardeiam. Ser famoso é tudo de que as pessoas “precisam”, mesmo que seja por alguns minutos. E viva o profeta Andy Warhol!