CARTA ABERTA AO FILHO
Filho, desmontaram a Secadi, Secretaria do Ministério da Educação que cuidava de inclusão, que tem como diretrizes educação especial, educação de jovens e adultos, entre outras. Sei que é difícil, filhão, você, tão jovenzinho, sem entender bem as coisas e, agora, cursando libras para poder compreender o mundo melhor. Sei que você não conseguiu ouvir quando um bando de desvairados saíram às ruas batendo panela pedindo sei lá o que, já que você estava na escola utilizando os programas dessa secretaria que faz questão de incluir pessoas que não escutam, como você, filhão.
Você também não ouviu quando uma legião de imbecis bradavam coisas sobre comunismo e outros ismos justificando ações injustificáveis. Você estava apenas na escola, aprendendo e amadurecendo como uma criança tem que fazer. E sei, meu querido filho, que nunca foi fácil! Que mesmo com os instrumentos de inclusão que existiam, você sofreu preconceito. Sofre ainda. Afinal, quando alguém diz na TV que não olhará para minorias e governará para todos, a impressão que tenho é que seremos atropelados por um trem, filho.
E peço desculpas antecipadamente, porque não consegui fazer mais. Peço desculpas por algumas pessoas te olharem diferente. Desculpas porque agora a diretriz é combater o politicamente correto, conforme disse o presidente no seu discurso de posse. Sabe, filho, aquele politicamente correto que garante que o próximo não te chame de surdinho, atrasado, retardado, ou tantos outros nomes que podem fazer você se sentir inferiorizado. Que garantia que o outro olhasse você como um igual, mesmo sendo diferente.
Teve um discurso em libras também na posse, filho. Foi um dia antes de acabarem com o Secadi que, mal ou bem, garantia o mínimo para você. Existiam erros? Claro, como em tudo. Mas era só olhar com carinho e fazer as mudanças necessárias para garantir a sua existência no mundo. Sua e de 45 milhões de brasileiros deficientes, quase um quarto da população do país. Como o papai já te falou, com paciência e perseverança você pode fazer o que quiser. Conquistar o que quiser.
De tudo, filho, o que me deixou mais triste é que de agora em diante as coisas poderão ser mais difíceis para você. Estarei ao seu lado para quebrar uns dentes de quem o desrespeitar e para seguir rumo a esse universo desconhecido que estamos pisando. Por fim, peço desculpas por não saber mais o que fazer para garantir uma vida digna para você.
Mas vou continuar tentando, sem desistir nunca, como você deve fazer. Jamais desistir e sempre olhar para frente com a esperança de que um dia o semelhante vai realmente olhar para o próximo como semelhante, mesmo com todas as diferenças. Respeito você acima de tudo e te amo acima de todos! Do seu pai cheio de erros, mas que vive tentando acertar.
LOBO DA PROVÍNCIA
Depois de um período de férias da coluna, retorno com os pitacos mais incisivos da província. Digo recesso da coluna, porque eu mesmo não parei de trabalhar. Vida de jornalista (apesar de ser uma profissão vilipendiada pelos tiozões influencers do zap ou das tias carolas nos grupos de família) não é fácil. Quando sobra tempo, falta dinheiro. E quando parece querer sobrar dinheiro, queima geladeira, quebra o carro, o cachorro fica doente, vish! Mas, nada que me faça desistir: a cachoeira do Salto me espera. Logo mais, se Deus quiser!
FESTA
Quero aproveitar o espaço e desejar a todos um incrível ano novo. Desses inesquecíveis, com a presença constante da família e dos amigos ao longo de 2019.
POR FIM
O Natal passou, mas uma dúvida não saiu da minha cabeça: nesse Natal, você trocou seu cachorro por uma criança pobre?
CABRIOLAS
– Já reparou nas cores das roupas do Papai Noel? Na certa, é mais um comunista!
– Este colunista é um velho Hippie-Punk-Rajneesh.
– Constatação: Sexo só existe antes do casamento. E depois do fim dele.
– Se Deus é todo poderoso, por que ainda não ganhei um cargo?