Qualquer que seja o tema da discussão em que estivermos envolvidos, apresentemos nossos argumentos sem agressões, ofensas ou ironias. O assunto sendo sério, todas as opiniões em contrário à nossa merecem respeito e consideração, porque nenhum de nós é dono da verdade. À luz da razão e do conhecimento o debate só enriquece. De outro modo, ele é inútil.
O neto ouviu atentamente as colocações do avô. Nunca imaginou que aquele senhorzinho, advogado trabalhista aposentado teria tamanha lucidez. Aprendera na escola que os mais velhos tendem a ser mais conservadores e rabugentos. Tolice. A cada dia daquele seu período de férias se surpreendia com o avô, pai de seu pai.
Já fazia duas semanas que estava na companhia do avô e, até então, finalmente havia aprendido o que era floresta e andar de bicicleta em ruas vazias aos domingos à tarde. Na cidade grande onde morava isto não era possível.
Em tão pouco tempo, o avô havia conseguido, feitos memoráveis na vida do netinho, então, muito disciplinada, objetiva demais, sensata demais e muito pobre.
Introduzira o lúdico, tão indispensável, na vida do garoto que era filho do seu filho mais querido. Ensinara Rogério a brincar de esconde-esconde, a subir em árvore e a dar banho no bicho de estimação da família, um cãozinho ancião, cego de um olho e muito meigo, que pouco latia, a menos que tivesse fome e sede.
O neto já estava arrependido das vezes anteriores em que rejeitara passar as férias de final de ano com o avô, aquele chato. Sentia agora um certo remorso por fazer juízo de valor a respeito de uma pessoa tão próxima mas que, tão pouco, quase nada conhecia. Desde muito pequeno, agora tinha 12 anos, fora morar longe e quase nunca tivera contato com o avô.
À medida que os dias para o retorno à escola se aproximavam uma certeza tristeza ia tomando conta de Rogerinho. No telefone, a mãe lhe dissera que poderia conversar com o avô pela chamada de vídeo do whatsapp, todos os dias, se quisesse. Mas, não seria a mesma coisa. Sabia que não. E ao se dar conta disso, duas ou três lágrimas lhe escorreram dos olhos, enquanto falava com a mãe.
Ouviu o chamado do avô, lá da cozinha, avisando que o Nescau gelado estava no copo sobre a mesa. Deixou a mãe falando sozinha ao telefone e correu para lá e encontrou o avô sorridente a esperá-lo.
Vô Edmundo, eu te amo, disse abraçando o avô, que se agachara diante dele para melhor receber aquele abraço que esperara durante tanto tempo.
Rogerinho, muito satisfeito, soube em seguida, que iria aprender a montar cavalo, na fazenda de um amigo de seu avô, na cidade de Ipeúna, que ficava logo ali, bem perto.
Os olhos do menino brilharam, e ele então percebeu que, para ser feliz, não era preciso muita coisa, conforme lera em um livro que, encontrara ao acaso na biblioteca do avô, naquele último final de semana.
Por Geraldo Costa Jr. / Foto: Imagem ilustrativa/Reprodução Internet