Confesso que chorei muito outro dia, quando vi no Facebook um post com dois idosos portando placas com nomes, pedindo visitas de parentes ou amigos.
Apesar de já ter passado por diversas situações doídas na vida, como todo mundo, suas agruras ainda não tiveram o poder de endurecer meu coração.
Assim, ainda me chocam apelos como esse, pois apesar das dificuldades, cuidei de minha mãe em casa até o fim de sua vida e, quando acamada, a ouvir dizer à minha filha, pela primeira vez, as palavras mágicas “eu te amo”…
Quem mais ganhou com esses cuidados foi eu, pois tendo-a junto de mim mais que os outros filhos, tive oportunidade de aprender até o fim. E com esta sua última lição, aprendi a dizer mais vezes essas três palavrinhas tão importantes em nossa vida, capazes de remover montanhas e abrir caminhos nos corações mais duros.
A música “Passe em Casa”, de autoria de Carlinhos Brow e outros compositores, retrata muito bem a realidade da dor do abandono: Passe em casa (tô te esperando)/ Passe em casa (tô te esperando?/ Estou esperando visita/ Tão impaciente, aflita/ Se você não passa no morro/ (Eu quase morro, eu quase morro)/ Estou implorando socorro/ (Eu quase morro, eu quase morro)… e por aí afora.
Como nesta música, vejo nas placas dos dois velhinhos um pedido urgente de socorro. É como se eles pedissem para não serem enterrados vivos. Apesar de suas limitações, ainda esperam atenção, ainda têm o que dizer, pois ainda estão vivos! Mesmo que suas palavras saiam trôpegas e pareçam irracionais, são importantes demais para serem desprezadas, pois esses são seus últimos sopros de sabedoria…
Só não enxerga quem não quer: os ciclos da vida são inexoráveis! Tudo nasce e tudo morre dentro de seu tempo. Já diz um ditado bíblico: “não cai uma folha da árvore sem que Deus queira”. Mas o importante não é viver ou morrer.
O importante é viver e morrer com qualidade de vida, com o cuidado de nossos familiares nos dando papa na boca, se necessário, nos lembrando o que esquecemos, nos corrigindo quando erramos, nos auxiliando quando damos um passo em falso, nos trocando se fazemos caca na roupa, nos amando até o fim, apesar de nossas condições.
Pois já fizeram tudo isso para nós quando criança, lembra? E mesmo na debilitação está intrínseca a lei da vida, e mesmo morrer é vida, quando existe amor…
Não existe momento mais oportuno do que o Natal para falar de amor e refletir sobre como o distribuímos em nossa vida. Porque Natal significa renascimento, e renascer é sonhar novos sonhos traçar novas rotas. Mas é também corrigir erros e amar o próximo.
E próximo não é só o vizinho, ou aquele amigo de trabalho ou do grupo com o qual nos reunimos para estudos ou lazer. Próximo, é aquele ou aquela que nos trouxe ao mundo. É aquele que já fez seu papel na sublimidade da criação.
Próximo, é aquele que nos espera lá no asilo, para ouvir “eu te amo” ao pé do ouvido, ou talvez para dizer essas três palavras divinamente poderosas, quem sabe pela primeira vez, ou talvez pela última.
Vamos dar essa chance ao próximo que colocamos lá no asilo com a desculpa de que lá ele viveria melhor para que nós pudéssemos viver melhor. Vamos dar essa chance a nós mesmos, corrigir nossas rotas. Talvez, assim, mereçamos ter um verdadeiro e feliz Natal!