Tem sempre alguém para nos dizer que antigamente era bom. Já percebeu que quando diz isso, a pessoa ignora, por exemplo, o que acontecia no mundo.
Primeira Guerra Mundial, depois a Segunda, produzindo uma violência jamais vista no mundo. Mais tarde, terminada a Segunda Guerra, o mundo conheceu a Guerra Fria e a angústia diária da perspectiva de um ataque nuclear. Mas, a pessoa insiste em dizer que “antigamente é que era bom”.
Talvez o mundo como ela conhecia era realmente bom, de uma sociedade cuja hierarquia patriarcal era muito bem definida. “Bastava um olhar do nosso pai ou de nossa mãe e a gente já obedecia”. Tenho certeza que você já disse ou escutou isso de alguém. Hoje, a dificuldade de se viver é a mesma. “Não há nada de novo debaixo do Sol”. Sábias palavras o Eclesiastes nos dá.
Com relação a cuidar dos filhos, antigamente parecia ser mais fácil. Quando o assunto era tabu, bastava aos pais não tocarem nele na frente dos filhos. Gerações e gerações cresceram tendo que buscar referências fora do círculo familiar. Muitas se orientaram, outras não.
Mas os tabus foram rompidos, o mundo mudou e hoje quem diz que o mundo está perdido, na maioria das vezes, se sente perdido diante desse novo mundo que nos impõe desafios diferentes.
Qualquer informação, sobre qualquer assunto, seja ela boa ou ruim, está ao alcance de um clique, na palma da mão, pelo computador ou celular, na internet.
Não há mais o que esconder dos filhos, e quem ainda insiste nessa velha fórmula, coloca tudo a perder em matéria de educar. E aí está o grande problema: não há fórmulas prontas.
É preciso conversar sobre tudo com eles, sem pensar em esconder algo tão logo estejam na adolescência. Porque, se não falarmos, eles irão descobrir. E contar somente com o aprendizado das ruas pode ser traumático.
Outro ponto essencial é que a era da informação também exige pais mais bem informados, que saibam o que acontece ao seu redor.
A família já não é mais a mesma. Se antes um casamento era para a vida toda, com altos e baixos e um poder de resistência que muitas vezes beirava o masoquismo, hoje a perspectiva da separação em muitos casos está sempre presente. Muitas crianças vivem com essa ansiedade, ainda que disfarçada.
O mito de que antigamente os pais eram mais presentes parece já não convencer. Passamos mesmo é por uma mudança de comportamento profunda, mais acelerada, que vai do bom humor ao inferno em segundos. Tudo parece estar por um triz. O emprego, a relação, o horário apertado para uma reunião, a resvalada da moto no retrovisor, o dia, a semana, o mês, o ano que passou e a gente nem viu.
O filho que aprendeu a contar e você foi notar só agora, o desenho que você não viu e tantas outras coisas. Quase tudo parece transitório, e nós nos escondemos nas justificativas de que a correria é grande e o tempo é curto.
Estamos fazendo um saque antecipado do futuro agora. Estamos gastando por antecipação o futuro. E vamos, sem perceber, desmontando o nosso presente. Por isso, temos a sensação de que o tempo está passando cada vez mais rápido.
Sem tempo, muitos pais desejam que a escola tenha a incumbência de educar a criança completamente. E a escola, por sua vez, mal consegue fazer a socialização secundária. Nossas crianças que nos salvem disso tudo.