A estudante de medicina Marcella Venancio do Valle, 27, analisa a retirada dos cerca de oito mil profissionais cubanos do programa Mais Médicos, depois de declarações hostis do presidente eleito Jair Bolsonaro (PSL).
Ela considera o ato uma “catástrofe diplomática”. “O fato é que os cubanos não foram expulsos e, sim, se retiraram. E se retiraram por faltas diplomáticas do atual presidente que desde 2013 no Congresso luta contra”, declarou.
Sobre o serviço, ofertado pelo país caribenho, a estudante destacou: “Cuba é famosa por fornecer esse tipo de serviço médico no mundo inteiro. E em muitos lugares, até voluntariamente”. Confira trechos da entrevista:
Entre as alegações para as críticas em relação aos cubanos, está que os médicos não fizeram o Revalida (prova que revalida o diploma no Brasil). Você concorda que a avaliação tem que ser feita?
Não, pois o Revalida permite que o profissional exerça totalmente sua profissão de médico em qualquer lugar do território brasileiro, o que não é o objetivo do Mais Médicos (que é, na verdade, levar esses profissionais onde eles estão em falta). Já estes profissionais estrangeiros que vêm através do programa Mais Médicos, só podem exercer a medicina nos locais para onde forem designados.
No brasil, mais de 8 mil médicos cubanos foram retirados. Rio Claro perdeu quatro profissionais. Qual será o impacto disso em sua opinião?
O impacto para a saúde pública é desastroso. Afinal, estes profissionais se encontravam em unidades públicas de saúde. O que irá apenas desfavorecer a população mais necessitada de Rio Claro.
Os médicos cubanos custavam aos cofres públicos apenas R$ 11 mil cada. Você acredita que as vagas serão preenchidas, já que os cursos de medicina custam, em média, R$ 8 mil por mês?
O preço da faculdade reflete a realidade que muitos dos profissionais de medicina buscam, infelizmente: apenas realização financeira. Dentro desse contexto, podemos entender o porquê o SUS carece de tantos médicos. Pois é realmente impossível que o governo (que tem a obrigação de fornecer atendimento a todos os brasileiros gratuitamente) consiga competir com os salários que o setor privado oferece a esses profissionais. Entretanto, vale lembrar que R$ 11 mil por mês é um salário muito acima da média de um trabalhador de nível superior brasileiro.
Por outro lado, formamos poucos profissionais de medicina por ano; se nos basearmos na relação médico/habitantes de outros países subdesenvolvidos como o Brasil, estamos abaixo da média.
O ideal seria investirmos em novas vagas em nosso território para suprir essa carência, porém, as pessoas que hoje carecem de atendimento médico não podem esperar. Por isso, deveríamos ser gratos a esses profissionais que vêm nos auxiliar preenchendo vagas que ainda não conseguimos ocupar. Assim, não deixando, nós, brasileiros, sem atendimento digno.
Se estivesse formada, se submeteria ao programa Mais Médicos?
A palavra ‘submeter’ já não condiz com meu pensamento a respeito, mas, sim, “participar”. Neste caso, minha resposta é positiva. Não vejo o porquê negar tal possibilidade de trabalho e ajuda ao próximo. Afinal, é o intuito da minha formação.
Estaria disposta a trabalhar em lugares inóspitos, como aldeias indígenas, por exemplo?
Infelizmente, na minha atual situação, não é algo que penso, pois tenho uma filha pequena e meu suporte são meus pais. Me disponibilizar a tais locais implicaria uma mudança muito drástica no estilo de vida dela, o que não faz parte dos meus planos como mãe. Portanto, ressalto novamente a importância dos médicos estrangeiros ou não, que se dispõem a estas vagas.
Cuba alegou que a retirada dos médicos se deu depois das declarações de Bolsonaro. Você concorda com as declarações?
Discordo, pois nosso presidente eleito profere discursos contrários e, até mesmo, no meu ponto de vista, ofensivos a esses profissionais. Inclusive, insinuou que seriam agentes cubanos infiltrados em nosso território.
Frente à decisão do governo cubano de chamar de volta os médicos e deixar esse rombo na nossa saúde pública, o nosso presidente tenta minimizar a questão apelando para o fato desses profissionais não receberem o salário integral e não receberem direitos trabalhistas igualitários. Coisa que o presidente Bolsonaro não defende para os próprios trabalhadores brasileiros, já que disse com suas palavras que o trabalhador brasileiro precisa escolher entre ter direitos ou ter emprego.
Médicos de outras nacionalidades também integram o programa e não fizeram Revalida. Na sua opinião, por que se focou tanto nos cubanos?
Xenofobia potencializada pelas ‘desavenças’ políticas entre o regime cubano e nossa nova presidência. Esse ‘ódio’ a Cuba é histórico pela questão do comunismo e o mito que isso representa.
O Bolsonaro, disse que queria pagar o salário integral a quem trabalha e não a parasitas escravagistas como os irmãos Castro, que há 50 anos roubam e tiram a liberdade do povo cubano. Os médicos cubanos vão embora por ordem do governo cubano e não por iniciativa do governo brasileiro. Eles têm as famílias reféns que sofrerão com remoção de suas casas para trabalhos em lavoura de cana se contrariarem a ordem dos tiranos. Trabalho escravo é ilegal no Brasil, agora quem apóia o regime comunista dos Castros , pegue uma carona com os cubanos e boa viagem.