Iniciando minha caminhando pela ciclovia da Rua 3-A, que vai da Avenida 50-A até o Distrito Industrial, algo chama minha atenção para o outro lado da rua: um homem caminha apressado, falando em voz alta.
Noto que ele é alto, magro, branco, barba e cabelos por fazer. Vestido de andrajos, não consigo definir sua idade.
O homem fala consigo próprio, ou com pessoas imaginárias. Profere frases inteiras em alto e bom som, estapeando o rosto de vez em quando, como se batesse em outra pessoa que não ele próprio. Vai em direção à movimentada avenida de mão dupla.
Temo por ele e peço a Deus que lhe dê proteção para atravessar a avenida em segurança e alcançar logo seu destino, antes que algo pior lhe aconteça, ou ele resolva estapear algum passante, ao invés de seu “alter ego”.
Vendo que em nada posso ajudar, sigo o meu caminho. Ao longo de uns 200 metros, ainda ouço a voz do rapaz que se distancia. Calculo que seja alguém drogado ou doente. E pelos trajes e higiene desleixados é, sem dúvida, um morador de rua.
Esta cena me remete à política social vigente, velha e frágil, que é obrigada a respeitar o “direito de ir e vir” de todo cidadão brasileiro, expresso na Constituição Federal de 1988. Assim, o indivíduo que vive em situação de rua, muitas vezes drogado, não pode ser recolhido para tratamento sem o seu consentimento, vivendo indefinidamente como um zumbi, até encontrar a morte, geralmente trágica.
Meu coração dói por esses indivíduos e dói também por este País, que engrossa cada vez mais este cordão de zumbis devido à falta de políticos que se empenhem em achar soluções para estas pessoas, como interná-las compulsoriamente em clínicas especializadas para tratamentos que necessitem.
Em Rio Claro, vemos bandos de pessoas em situação de rua em vários locais, dentre eles o Jardim Público, as imediações da Rodoviária, sob marquises de algumas lojas e também no Lago Azul. Ali permanecem por dias, meses e até mesmo anos a fio, sem banho, sem comida, sem remédios, sem agasalhos no inverno, sem familiares que lhes deem bom dia ou um simples abraço.
Isto tudo sem falarmos nos pontos de drogas que se instalam nas ruas, praças, prédios abandonados e, agora, no interior de universidades brasileiras, onde alunos defecam e urinam sobre a laje que deveriam beijar, em agradecimento por ter a chance de estudar.
Já em dezembro de 2011, o Estadão apontava que existiam 29 grandes cracolândias dispersas por 17 capitais brasileiras. Hoje, as estatísticas mostram que houve uma grande elevação de consumo de drogas no País e, consequentemente, aumento de pontos de drogas.
Ao meu ver, a solução para recuperar os drogaditos em situação de rua é a internação compulsória, como ocorre em outros países. Perdoem-me os especialistas no assunto se estou enganada, mas é preciso endurecer as políticas públicas brasileiras neste quesito.
É preciso que, independente do direito de ir e vir, possamos ver os direitos do ser incapaz em que o dependente de drogas se transforma. Somente assim poderemos ver a luz no fim do túnel. Ou corremos, todos, o sério risco de termos uma Nação dominada por zumbis. E, dentre eles, nossos irmãos, filhos e netos.
Por Nilce F. Bueno
Maria Tereza, em minhas cronicas procuro sempre dar em um destaque especial para o amor ao próximo , em qualquer circunstância. Infelizmente as pessoas não são tratadas como seres humanos que sofrem, e sim como coisas ou números…
As pessoas têm que aprender a pensar no próximo como seres humanos e não como números ou objetos, Flavia!
Parabens pela escrita realista e ate carinhosa!!!
Infelizmente nossa política fez questão de transformar seres humanos nos ditos zumbis! Tenho esperança tanbem que tudo possa vir a tomar outros rumos!
Os textos escritos por Nilce Franco Bueno sempre oferecem retratos nítidos e fiéis de personagens muito humanos, que podem ser visualizados nas frases, como se estivessem numa tela de cinema. Despertam o impulso de sair em busca deles, onde estiverem, na realidade ou na ficção.