Sabe aquele filme do qual a gente lembra por causa da música? Pois é bem provável que o compositor da música, tenha sido Ennio Morricone.
O grande maestro compositor nos deixou já faz algum tempo, mais exatamente em 5 de julho de 2020. E em seus 91 anos bem vividos, desempenhou a belíssima missão, reservada a poucos, essa de emocionar as pessoas através da música.
Ennio Morricone, nascido em Roma, em 10 de novembro do longínquo 1928, compôs mais de 400 trilhas sonoras para cinema e televisão, e mais de 100 músicas clássicas. É outra importante referência da cultura do século 20 que saiu de cena para ganhar uma página definitiva na história.
Mais que os filmes que fazem lembrar, as músicas de Ennio Morricone, tornam-se inesquecíveis devido a emoção que causam. É o caso da música tema do filme Malena, que tem Mônica Belucci no papel principal. Impossível ouvi-la e não lembrar daquele amor da adolescência, normalmente relegado à dimensão do impossível. Enquanto se ouve a belíssima melodia, inevitável pensar que amar alguém à distância, é como ter o tesouro da vida diante de si e não poder tocá-lo, nem possuí-lo. Não sei você, leitor, mas, eu já passei por isso.
“Débora”, a partitura que dá vida aos sentimentos da personagem homônima interpretada por Jennifer Connelly no filme Era uma vez na América nos leva como que diante da personagem, que é obrigada, por força das circunstâncias, a renunciar ao seu grande amor, muito bem interpretado no personagem vivido por Robert de Niro.
Como resistir à vontade de também estar naquela sala de projeção, do cinema velho e decadente, quando se ouve Theme D’Amour, a música que embala as lembranças do menino Totó, no filme Cinema Paradiso.
Morricone teve a rara habilidade de unir duas preciosas artes, a música e o cinema. O maestro que nos deixou órfãos de bela música, deu alma às imagens, mais que aos personagens.
Manteve com o cineasta Sergio Leone uma parceria perfeita, que atravessou décadas. Muitos se lembram das trilhas dos filmes western, Por um Punhado de Dólares, Por uns Dólares a mais, Três Homens em Conflito, protagonizados por Clint Eastwood. Mas a trilha sonora do filme “Era uma Vez no Oeste”, no qual Charles Bronson interpreta o forasteiro misterioso e sua inseparável gaita, que busca vingança contra o matador profissional Henry Fonda é a melhor representação da afinidade entre esses dois italianos, que foram geniais em suas respectivas artes. Quem assistiu à película, jamais esquecerá a música da cena final, em que a bela Claudia Cardinale, caminha pela rua principal da cidade que, então, passava a conhecer o progresso trazido pela ferrovia.
Há duas outras trilhas compostas por Morricone que também merecem destaque, a do filme “Quando Explode a Vingança”, que tem Rod Steiger, no papel do revolucionário endoidecido disposto a tudo, também dirigido por Sergio Leone e “Meu Nome é Ninguém”, de Tonino Valeri, com Terence Hill, ele mesmo, o Trinity, como o personagem principal, e, novamente, Henry Fonda, no papel do vilão.
De todas as músicas compostas por Ennio Morricone, todavia, há uma que talvez sintetize toda a beleza de sua arte, é “Gabriel Oboé” que fez para o filme norueguês “A Missão”, de 1986, dirigido por Roland Joffé, que conta a história de padres jesuítas imbuídos da inglória tarefa de catequisar índios guaranis na América do Sul.
Ennio Morricone, o italiano, muito sensível, muito próximo da perfeição artística musical, que na juventude tocava trompete em bandas de jazz, também influenciou em algum aspectos bandas de rock como Dire Straits, Metallica e Radiohead. Ao menos, é o que dizem especialistas no assunto.
Premiadíssimo ao longo de toda a exuberante carreira, Ennio Morricone também venceu dois Oscar’s; em 2007, pelo conjunto da obra, e em 2016, quando compôs para o filme “Os Oito Odiados” de Quentin Tarantino.
O maestro se foi, e não seria exagero imaginar que, de sua chegada ao Paraíso, fora recebido com pompas pela corte celestial, ao som de suas maravilhosas e inesquecíveis melodias. Como esforçado cronista, amante da boa música, reservo-me o direito de imaginar a cena, enquanto tomo meu indispensável café da manhã. Nos vemos, leitor. Por aí, quem sabe…
Por Geraldo Costa Jr. / Foto: Reprodução