O jogo teve todos os ingredientes de um filme de terror. Estádio lotado, chances desperdiçadas, bola que não entra e o adversário abre o placar no contra-ataque, justamente com um ex-atleta santista, que já deu muitas alegrias a essa mesma torcida: Marinho.
Veio o empate no segundo tempo, um gol daqueles arrancados à fórceps, de cabeça, de um zagueiro, após cobrança de escanteio. Mas não era a noite do Santos. Os adversários diretos na luta contra o rebaixamento venciam os seus jogos e o Santos, não. O time foi todo à frente, na base do desespero, em busca do gol salvador. E até o goleiro João Paulo foi tentar a sorte no ataque. Lucero, o atacante do Fortaleza percebeu o gol santista desguarnecido e tocou por cobertura, a bola viajou pelo alto e foi morrer mansa na rede de um desolado João Paulo que apenas acompanhou o lance com os olhos, sem que nada pudesse fazer. Estava decretado o pior. Aquilo que nenhum santista jamais imaginou pudesse acontecer. O Santos estava rebaixado. No ano em que o Campeonato Brasileiro leva o nome de “Brasileirão Rei” em homenagem ao saudoso Pelé, o Santos amarga pela primeira vez o rebaixamento à Série B.
As cenas registradas na Vila Belmiro, ao final do jogo em que o Santos perdeu para o Fortaleza por 2×1, eram comoventes. Lágrimas e dor estampadas nos rostos dos santistas, desde os mais jovens, que sonham conhecer o Santos vitorioso, cantado em verso e prosa por seus pais e avós, até os mais velhos que ainda tem na retina, a lembrança agradável dos esquadrões que o Peixe teve ao longo de sua história e que encantaram o Brasil e o mundo, dentre eles, a geração de ouro e vencedora de tudo, comandada por Pelé, passando pelos inesquecíveis Meninos da Vila, ao final da década de 1970, e depois, no início dos anos 2000, com Robinho e Diego e, mais recentemente, a equipe “santástica” campeã da Libertadores de 2011, do craque e ainda menino Neymar.
No gramado da Vila Belmiro, os jogadores santistas permaneciam desolados ao final do jogo, alguns, em prantos, como o goleiro João Paulo e o atacante Lucas Braga, além do técnico Marcelo Fernandes.
Torcedores mais exaltados invadiram o campo e foram contidos pelos policiais. Outros, arremessavam objetos no campo em direção aos jogadores, cadeiras, inclusive, causando danos ao patrimônio do clube.
Nas cercanias do estádio Urbano Caldeira, dois carros foram incendiados. Tristeza imensa e revolta desmedida por parte da torcida santista, inconformada com o rebaixamento do time à Série B.
O momento, porém, é de assimilar o golpe e preparar a retomada com objetivo de retorno imediato à Série A. Às portas da assembleia que vai eleger o novo presidente para os próximos três anos, que acontece no sábado, dia 9, o Santos ainda vive a expectativa da construção de sua tão almejada e merecida arena.
Sem vaga na Copa do Brasil do próximo ano, o Santos ainda enfrentará a dificuldade de ter um volume menor de receitas na próxima temporada o que limitará a capacidade de investimentos do clube na formação de um time competitivo à altura de suas tradições. O cenário caótico indica muito trabalho à nova diretoria que assumirá o clube nos próximos dias.
Por Geraldo Costa Jr. / Foto: Guilherme Dionízio