O ano é 1994. Talvez 1995. As videolocadoras de Rio Claro recebem milhares de pessoas diariamente com um objetivo comum a todos: alugar inúmeros títulos a fim de desfrutar de bons momentos junto à família, junto aos amigos. O ápice quanto ao movimento ocorre às sextas e sábados, oportunidades em que se se alugam dois, três filmes para, na maioria da vezes, devolver na segunda.
Os demais dias da semana, no entanto, também são movimentados. Não há sequer um dia ruim. As opções de lazer e entretenimento são escassas, o que torna as videolocadoras uma das opções mais concorridas. A escolha dos filmes é quase um ritual sagrado. Aquele momento foi esperado por muitos a semana inteira.
Os lançamentos, claro, são os mais desejados. Mas há aqueles que preferem os clássicos. Sem esquecer das crianças, que fazem com que a movimentação nesses estabelecimentos seja ainda mais agradável. Vão em busca de animações e filmes compatíveis com a idade. O ambiente é familiar. Um deleite para tantos.
O ano é 2018. Em um pouco mais de duas décadas, muita coisa mudou. Outras tantas se perderam no tempo. Neste período, constatamos o advento da pirataria, da internet, da TV a cabo e, especialmente, de serviços como a Netflix. Na Cidade Azul, foram poucas as videolocadoras que resistiram a tudo isso e ao tempo. O Centenário conversou com Fabio Rodrigo de Melo, proprietário da Vídeo Pegaso, situada na região central de Rio Claro, no mercado há 34 anos. E que, mesmo remando fortemente contra a maré, segue com suas portas abertas.
Melo conta que, em 1996, já integrava o quadro de sócios, mas foi em julho de 2005 que assumiu como sócio administrador.
O AUGE
De acordo com Melo, o ápice quanto ao movimento foi registrado em 1996. “Justamente no período em que comecei a participar da empresa, e perdurou até 2007. Havia ótimo movimento nos fins de semana e férias”, conta.
QUEDA
O empresário relata que, há uns dez anos, o movimento passou a registrar quedas e oscilações. De acordo com ele, às vezes uma quarta pode até ser melhor que uma sexta-feira, algo que não era habitual anos atrás. Por outro lado, Melo garante que há aqueles que não perderam o costume de frequentar assiduamente o local. “Temos clientes em pleno 2018 que possuem o hábito de ir até a locadora, pois preferem a mídia física”, assegura.
CONCORRÊNCIA
Sobre a pirataria, afiança que nunca teve qualidade, portanto, jamais foi uma concorrente à altura. Com relação à internet, avaliza que para se baixar filmes, é preciso pagar por uma boa rede. Já sobre a TV a cabo, diz que é necessário pagar planos que podem, no fim do mês, fazer a diferença no orçamento. A respeito da afamada Netflix, hoje, talvez, a principal concorrência das videolocadoras que resistem, Melo foi enfático. “Não tem lançamentos recentes”.
OUTROS PRODUTOS
Assim como aconteceu com as lojas de CDs, que se viram obrigadas a comercializar outros produtos visando permanecer em funcionamento, Melo confidencia que incorporou produtos como refrigerantes, serviços como xerox, impressões, além de formatação e manutenção de notebooks e computadores. “E ainda vendemos títulos seminovos de todos os gêneros em DVD e VHS. Um estabelecimento tem que inovar, caso contrário, não se mantém no mercado”, assevera.
CLIENTES
Melo expõe que existem clientes que vão sozinhos e passam horas no local, assim como há famílias que ainda mantêm o hábito. “Nosso acervo é vasto e garanto que nenhuma TV a cabo possua o equivalente a ele. Quase toda semana recebemos lançamentos em DVD, Blu-ray 2D e Blu-ray 3D”, afiança.
ESTÍMULO
“O que me move a manter a locadora é minha paixão por filmes. Meu pai foi um dos primeiros cidadãos de Rio Claro a ter Vídeo Cassete. Meu irmão iniciou a Vídeo Pegaso locando filmes para vizinhos. Até que surgiu o ponto comercial, que nunca foi alterado. Cresci vendo filmes. Quase toda semana vou conferir lançamentos no cinema”, enfatiza.
O FUTURO
Indagado quanto ao que está por vir, Melo pondera que as videolocadoras não vão durar para sempre. Em sua concepção, elas poderão se tornar algo similar aos sebos de livros atuais. “Porém, quem conviveu com esse comércio, que foi muito explorado, sempre vai sentir uma nostalgia ao se recordar de como era. Tenho certeza que se decidir fechar as portas num futuro próximo, deixaremos saudades”, finaliza Fabio Rodrigo de Melo
OPINIÕES
Ricardo Tartaglia vê as videolocadoras com muito saudosismo, apesar de notar que algumas ainda sobrevivem aos efeitos da tecnologia. “Hoje, vejo o quão maravilhosa era a época de escolher filmes na locadora para assisti-los durante, principalmente, o fim de semana. Atualmente, creio que seja difícil as locadoras de VHS e DVD resistirem ao efeito do tempo, mas valorizo quem ainda tenha admiração por essa tradicional forma de lazer”, opina.
Já Lucas Britsky Camargo avalia que as videolocadoras marcaram uma época. De acordo com ele, ao longo de 20 anos, era o primeiro emprego dos sonhos para muitos adolescentes. “Outro sonho era ter em casa nosso próprio acervo de filmes para ver e rever quantas vezes quiséssemos”, revela. Camargo menciona ainda um diferencial. “Havia também o aspecto social ao se frequentar uma locadora. Conversar com o atendente, pedir sugestões, interagir com o caixa e os eventuais amigos que apareciam por lá”, rememora. Entretanto, confessa que, no mais, as plataformas de conteúdo dão conta de permitir acessos e montar acervos próprios. “E sem precisar reservar um cômodo da casa para isso. A recordação é muito boa, mas não vejo mais sentido para elas nos dias de hoje”, admite.