A produção da Paramount Pictures é de 1972, mas foi em 1973, portanto, há 50 anos, que O Poderoso Chefão (The Godfather) ganhava o Oscar de melhor filme, afirmando-lhe a consagração que já lhe havia sido concedida pelo público desde seu lançamento.
Indicado a dez estatuetas, ganhou esta e mais 2, melhor ator, com Marlon Brando e roteiro adaptado, de Francis Ford Copolla e Mário Puzo, autor italiano, que assina o livro homônimo, no qual se baseia a história.
O grande vencedor daquele ano, porém, foi Cabaret, um musical de Bob Fosse, estrelado por Liza Minelli. Cinquenta anos depois, o Poderoso Chefão é lembrado e cultuado até hoje. Cabaret, apesar do seu brilhantismo, não.
A produção de O Poderoso Chefão foi uma saga. Custou 7 milhões de dólares e arrecadou nas bilheterias mais de 250 milhões. As filmagens levaram pouco mais de 2 meses para serem concluídas. Porém, uma única cena, aquela em que Sony, um dos filhos do Chefão é assassinado, consumiu 3 dias de filmagem.
Copolla não foi o primeiro nome cogitado para dirigir o filme. A Paramount, produtora e detentora dos direitos sobre o romance de Puzo, pensou antes, em vários nomes, dentre eles, Sergio Leone, que havia dirigido com brilhantismo e sucesso filmes como Por um Punhado de Dólares, Três Homens em Conflito e Era uma vez no Oeste. Mas consta que Leone recusou a oferta porque estava envolvido no projeto de Era Uma Vez na América, que só viria a concluir mais de 10 anos depois.
Copolla ganhou a parada e exigiu nada menos que Marlon Brando no papel de Don Vito Corleone, depois que o mito Laurence Olivier recusou a oferta. A investida sobre Brando, Fez Copolla comprar briga com os produtores que não levavam fé no consagrado ator, tido como excêntrico e instável. Os executivos da Paramount então exigiram que Copolla submetesse Brando a um teste para saber suas reais condições e ficaram encantados com o que viram dando a Copolla o sinal verde.
A performance genial de Brando, provaram que Copolla tinha razão. Brando ganhou o Oscar como melhor ator, mas se recusou a recebê-lo, numa das atitudes mais surpreendentes e insanas, para muitos, da história do cinema.
Embora não tenha ganhado o Oscar, a trilha sonora do filme é sua marca registrada. De autoria de Nino Rotta, a famosíssima trilha sonora de O Poderoso Chefão, na qual se destaca O Tema do Amor, não foi indicada ao Oscar, porque o compositor já havia utilizado a mesma em um filme italiano de 1958, Fortunella.
O Poderoso Chefão conta com um elenco de primeira grandeza. Além de Brando, aparecem com destaque James Caan, Robert Duvall, Richard Castellano, Diane Keaton e Al Pacino, que interpreta o filho advogado do temido mafioso, a quem, depois de muito relutar cabe cuidar da sobrevivência da família e a expansão de seus negócios. A transformação de Michael, um pacto e reservado cidadão, em um chefe ambicioso e assassino frio e calculista é muito bem desenvolvida no roteiro e na interpretação segura de Pacino, que faria o papel de Vito Corleone, quando jovem, na sequência do filme, produzida 2 anos depois, e que alcançara igual sucesso.
Todos os elementos do melhor estilo hollywoodiano de produzir filmes está presente em O Poderoso Chefão: ótimo roteiro, grandes atores, belíssima trilha sonora, locações primorosas, direção impecável e uma montagem perfeita.
Está presente, muito forte, a moral conservadora, que marcara a sociedade americana até a contracultura dos anos 1960. O novo viés libertário introduzido no jeito americano de levar a vida (american way of live), não impediu, contudo, que o público de todas as faixas etárias se rendessem à qualidade do filme.
A característica bem peculiar do cinema americano de glamourizar a violência está registrada em O Poderoso Chefão. Basta uma passada de olhos nos registros da imprensa da época, entretanto, para saber que não houve nada de bonito na história da máfia com raízes italianas radicada nos Estados Unidos, nas primeiras décadas do século passado, e que fez fortuna e exerceu grande influência em vários segmentos da sociedade norte-americana, na política, inclusive, matando, extorquindo e contrabandeando bebidas enquanto perdurou a lei seca.
Mais recentemente, disseminou-se nas redes sociais, o código moral, que consta de 9 mandamentos, seguidos à risca pela máfia ítalo-americana, daquele período retratado no filme, e tão bem representada pelo clã Corleone, a saber:
1 Mantenha sempre a humildade
2 Confie apenas na família e nos amigos próximos
3 Dê o devido valor à amizade
4 Trate a todos da mesma maneira
5 Uma boa rede de contatos é fundamental
6 Nunca fique em dúvida com alguém
7 Tudo é pessoal
8 Seja atencioso com os outros
9 Aprenda a dizer não da melhor maneira
Olhando assim, difícil acreditar que estes são valores praticados por criminosos. Ou, nem tanto, em um mundo onde as aparências e o poder do dinheiro, ainda determinam o destino de muitas vidas, como bem demonstra o filme O Poderoso Chefão, em quase 3 horas, da primeira à última cena.
Por Geraldo Costa Jr. / Foto: Reprodução