Em 19 de junho é comemorado o Dia Nacional do Luto, uma data dedicada à reflexão e aos sentimentos de perda. O luto é um processo natural e esperado frente às situações de rompimento de vínculos significativos, inclusive para famílias que sofreram uma perda gestacional ou neonatal.
Segundo a Organização das Nações Unidas (ONU), cerca de dois milhões de bebês nascem mortos anualmente no mundo, o que representa um natimorto a cada 16 segundos, sendo que a maior parte dos casos ocorre entre 8 e 12 semanas. No Brasil, há aproximadamente 8 óbitos neonatais para cada 100 mil nascidos vivos e cerca de 28 mil óbitos fetais ao ano.
Porém, quando o luto é decorrente da perda gestacional ou neonatal, o cenário é bastante desafiador. Seja pela perda gestacional/aborto espontâneo (quando a gravidez é interrompida por algum motivo) ou pela perda neonatal (quando ocorre o óbito nos primeiros 28 dias de vida do bebê), a dor da mãe ou do pai costuma ser silenciada, minimizada e invalidada.
Segundo Carlos Moraes, ginecologista obstetra pela Santa Casa/SP, membro da Febrasgo e especialista em perinatologia pelo Instituto de Ensino e Pesquisa do Hospital Albert Einstein; mesmo as pessoas mais próximas podem não entender a dimensão da dor, já que a perda foi de um filho que, tecnicamente, não existiu. “Ou seja, para elas, não houve convivência, apego, lembranças ou qualquer situação que justifique saudade e luto”, explica Moraes.
De acordo com um estudo da universidade de Nova Rochelle, nos Estados Unidos, o luto não reconhecido é aquele que foge às normas socialmente estabelecidas, “que tentam especificar quem, quando, onde, como, quanto e por quem as pessoas deveriam se lamentar”.
O estudo relata que é comum mães e pais, que acabaram de perder seus bebês, ouvirem frases clichês de “consolo”, como: “mas ainda estava no início da gravidez”, ou “você ainda é jovem, pode ter mais filhos” ou, pior ainda, “que bom que você já tem outros filhos”.
Mas, para Monica Machado, psicóloga e pós-graduada em Psicanálise e Saúde Mental, estas atitudes reduzem a importância da perda e aumentam o tabu sobre o luto perinatal, já tão cercado de silêncio, isolamento e desinformação.
“Para a mulher que sonha em ser mãe, o vínculo com o bebê começa assim que o teste de gravidez dá positivo. E não importa se a gestação durou 8 semanas ou 9 meses. Todo bebê representa um novo projeto de vida. Planos foram feitos, expectativas geradas e um amor nutrido. Então, sim, o luto perinatal é tão legítimo e necessário de ser acolhido como qualquer outro”, pontua Monica Machado.
Tudo bem não estar bem
Segundo Carlos Moraes, a perda costuma vir acompanhada do sentimento de culpa e fracasso, o que é típico nestes casos. “A mulher passa a se sentir responsável e tenta sempre buscar justificativas sem fundamento para o ocorrido, podendo gerar um luto atrasado”, alerta o ginecologista obstetra.
No entanto, o pior erro que se pode cometer é inibir a dor da perda. “Disfarçar as emoções, tentar ignorar a fragilidade do momento e, pior, forçar precocemente o retorno à vida normal, são atitudes que vão comprometer o processo de superação. Se você não se permitir a vivência do luto agora, a dor será internalizada, até que surja algum gatilho que lhe fará reviver este momento, podendo, inclusive, desencadear um transtorno de estresse pós-traumático”, explica Monica Machado.
De acordo com os especialistas, participar de grupos de apoio pode ser benéfico para a busca de compreensão e suporte de pessoas que vivenciaram experiências semelhantes. “Se achar necessário, considere a terapia com profissionais especializados em perdas e luto. Isso pode auxiliar você a processar suas emoções, lidar com o luto e desenvolver estratégias para seguir em frente”, finaliza a psicóloga.
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