“Somos em 20 que costumam dormir aqui na praça, sem contar os de fora da cidade”, afirma Mario Antonio Bariqueiro Rezende, um dos vários habitantes do espaço público, que são alvo de constantes reclamações por quem passa ou trabalha pelo Centro de Rio Claro.
O que justifica isso, é o fato destes, segundo a população, ocuparem os bancos das praças para dormir, se envolverem em brigas e praticarem até mesmo atos libidinosos em pleno Jardim Público. O Diário do Rio Claro ouviu a população, os próprios moradores de rua e o Poder Executivo Municipal.
Andar pelo Centro de Rio Claro e não ser abordado por algum dos moradores de rua se tornou algo difícil, principalmente no entorno da Praça Otoniel Marcos Teixeira e Quinze de Novembro, que formam nosso tradicional Jardim Público. “Não tenho coragem de atravessar a Praça, o cheiro é horrível, a Prefeitura precisa abrir os olhos para isso”, desabafou a moradora Lucilene Pedro.
“Esses dias contamos dez, cada um deitado em um banco. As pessoas temem passar pelo centro da praça, principalmente à noite. Eles brigam entre si e quando estão alcoolizados, quase são atropelados, como aconteceu esses dias”, conta um taxista local que não quis ser identificado.
Uma senhora que conduzia um carrinho de bebê, que preferiu não se identificar, afirmou que naquela mesma semana dois moradores de rua faziam atos obscenos em plena luz do dia, em lugar público. “Eles não se importam com as outras pessoas, já tomaram conta daqui”. Em uma entrevista recente à reportagem do Diário do Rio Claro, um comerciante do Mercado Municipal alegou que o banheiro do referido estabelecimento também estava sendo usado para a prática de atos sexuais de andarilhos.
O funcionário público Valdir Carvalho conta que a situação na praça em frente ao seu trabalho é complicada. “A maioria não se cuida, não faz nada para mudar de vida. Sempre que podemos damos café para eles, mas quando sugerimos que eles catem reciclagem ou façam algum serviço para sobreviver, percebemos a falta de vontade deles. Eles querem ficar largados”.
Carvalho completa dizendo que muitos deles fazem necessidades fisiológicas em qualquer lugar e que, quando a Guarda Municipal está por ali, o sentimento da população é de alívio. “Alguns são aposentados, têm famílias boas, mas escolhem permanecer nessa vida, bebendo, usando drogas e fazendo coisas erradas”, finaliza ele.
Para o comerciante da área central, Vanderley Cascone, o Poder Público precisa dar um destino a essas pessoas. “Muitas vezes, eles ficam deitados defronte às agências bancárias, impedindo a passagem das outras pessoas. Outro dia minha mulher não conseguiu retirar dinheiro por isso. Sem contar a forma que eles nos abordam. A Prefeitura precisa tomar alguma atitude”, afirma o comerciante.
Por sua vez, o comerciante Daniel Chaves não encara os moradores de rua como um incômodo e sim como uma resposta e consequência da sociedade em que vivemos e acrescenta: ”eu já fui morador de rua, sei como é a situação. Acho que o mais importante é ajudar essas pessoas, mas quando digo ajudar, não me refiro a dar o que eles querem e sim o que eles precisam. Ajudar dentro da nossa possibilidade e não dentro da vontade deles”.
A voz das ruas
Mario Antonio Bariqueiro Rezende tem 37 anos, é nascido em Rio Claro e mora nas ruas da cidade há 15 anos. Rezende é alcoólatra e conta que sua mãe o expulsou de casa por conta do vício. “Costumo dormir aqui nessa praça, mas cada noite em um ponto diferente, para minha segurança. Gostaria de um lugar seguro para ficar, mas a Prefeitura só promete e nunca faz nada”.
O desprovido relata também que o “albergue” municipal acolhe os moradores por, no máximo, dois dias. “Já trabalhei em diversos lugares, já fui gerente de vendas, hoje não quero mais trabalhar, só quero beber minha pinga e fumar meu cigarro em paz, não uso drogas, não roubo e nem faço nada de errado. Peço comida por aí quando estou com fome e quando me machuco vou no pronto socorro”, finaliza ele.
Um morador de rua mais velho, chamado Afonso Fernandes, mora há três anos na rua. Ele relata que não tem família, que também dorme na praça, mas não se sente seguro. Fernandes narra que estava no local durante o roubo às agências bancárias que aconteceu neste ano.
“Um dos criminosos com fuzil R15 cutucou a gente e pediu para sairmos de lá para poderem roubar. Depois que saímos, eles ficaram atirando para cima, nós ficamos escondidos embaixo dos bancos pensando que íamos morrer. Não me sinto seguro aqui, gostaria de um lugar para dormir e tomar banho”, completa o senhor, que afirma ainda não ter condições de trabalhar devido sua catarata e fêmur operado.
Perspectiva do Poder Executivo Municipal
Segundo a Assessoria da Prefeitura Municipal, a Secretaria do Desenvolvimento Social mantém parceria com a Organização da Sociedade Civil “Instituto Viver e Conviver” (IVC), para trabalho realizado no atendimento aos moradores de rua. O serviço, de caráter constante e programado, tem por finalidade assegurar trabalho social de abordagem e busca ativa que identifique situação de rua, dentre outras.
O serviço busca sanar as necessidades imediatas desta parcela marginalizada, ao mesmo tempo que monitora os locais com grande concentração de moradores na condição de rua. “Entre os objetivos do programa está o de construir o processo de saída das ruas e possibilitar condições de acesso à rede de serviços e a benefícios assistenciais”, afirma assessoria.
Além disso, por meio da parceria com o IVC, também é oferecido aos moradores de rua serviço de acolhimento na Casa de Passagem, com oferta de acolhimento imediato e emergencial, com profissionais preparados para receber esta comunidade desprovida e os usuários de drogas, enquanto se realiza um estudo detalhado de cada situação para os encaminhamentos necessários. “No local, os atendidos podem tomar banho, se alimentar e pernoitar. Esse serviço também é fornecido a migrantes a partir de critérios sociais, passagem para o destino desejado ou cidade de origem”, esclarece a assessoria.
Em relação ao tempo de permanência na Casa de Passagem, alvo de reclamações desta comunidade carente, a Assessoria da Prefeitura alega que o tempo de permanência na Casa de Passagem é determinado a partir de avaliação e análise da equipe técnica que atende no local. “O serviço oferecido é para atendimento imediato e emergencial, enquanto se realiza um estudo detalhado de cada situação para os encaminhamentos necessários”.