Há dois anos e cinco meses, a jovem Lisley Santos Rodrigues estava prestes a subir ao altar com os preparativos na reta final, faltavam apenas 20 dias para o casamento, mas uma notícia abalou todos os familiares.
Um grave problema de saúde. “Os meus pés incharam muito, fui até o pronto atendimento, fiz alguns exames que constataram que que eu estava com os rins parados. Passei por mais exames e, no outro dia, já entrei em hemodiálise”, relembra.
Após sete dias internada, foi liberada e o casamento aconteceu, porém, depois, a auxiliar de departamento pessoal começou uma luta pela vida. Ela precisava de um transplante. No meio do caminho em busca do doador, Lisley teve que enfrentar uma bactéria chamada endocardite. “A cada dez pessoas que pegam, oito morrem, mas Deus me livrou, me recuperei e fomos para São Paulo para consulta com os possíveis doadores”, explica. Entre eles, estava a irmã Lislaine Hebling com o resultado de 100% compatível.
“A emoção foi grande, ficamos muito felizes, ela queria muito me doar. Mas, antes, precisou perder 35 quilos para fazer a doação. Depois da espera, a boa notícia. O procedimento foi um sucesso e Lisley, hoje, tem uma vida normal, apenas passa por consultas de rotina a cada três meses.
“Na realidade, não existe uma forma de explicar a sensação de fazer o ato da doação sabendo de tudo que ela proporciona para quem recebe, a satisfação é maior que toda dor, medo e receio. E para quem não é doador, cabe a reflexão sobre o benefício do ato. Para nós, doadores, é apenas uma escolha, a vida pós doação é normal, mas para quem recebe é uma segunda chance. É uma uma nova vida”, evidencia a irmã doadora, Lislaine Hebling.
À ESPERA
Segundo dados do Portal do Governo do Brasil coletados junto à Associação Brasileira de Transplantes de órgãos (ABTO), apontam avanços e consideram o cenário positivo. Em 2016, foram aproximadamente 25 mil transplantes e, em 2017, cerca de 27 mil, recordes que representam a retomada após alguns anos de retração e avanços pequenos. Apesar dos resultados, no fim do ano passado, mais de 32,4 mil pacientes adultos estavam na fila de espera por um órgão, além de outras mil crianças que também aguardam um transplante. A grande maioria deles (30 mil adultos e 785 crianças) aguardava rins ou córnea.
À espera de um rim está o publicitário Eber Novo, morador de Rio Claro. A expectativa já se arrasta por dois anos. “Faço hemodiálise desde março de 2017. Iniciei após complicações renais devido a diabetes, a qual possuo desde nascença. Comecei a passar mal do rim em dezembro de 2016 e, na ocasião, fiquei internado por 20 dias, até normalizar a situação e então, posteriormente, começar a diálise”, conta.
Recentemente, a notícia que tanto espera até chegou, porém, no meio do caminho foi informado que o transplante ainda teria que ser adiado. “No dia 12 de setembro, apareceu um rim que deu compatibilidade com o meu, mas, na fase dos últimos testes, não deu certo. Pessoas que estão no mesmo caso que o meu relataram que já foram chamados até quatro vezes e até não deu certo ainda. É torcer para que tudo saia na hora certa”, relata.
Mesmo assim, mantém a força. “A luta é diária. A expectativa é boa, mas aprendi que nem sempre cantemos vitória antes do tempo”, fala Eber, sem perder a esperança.
CASO RECENTE
O caso mais recente na região foi do rio-clarense Rafael Augusto Masson, de 23 anos, que teve morte cerebral na noite do dia 21, na Santa Casa de São Carlos, onde foi internado após grave acidente registrado na manhã do domingo (21). A família tomou a decisão de doar órgãos do rapaz, já que era sua vontade em vida.
O procedimento para retirada múltipla dos órgãos aconteceu na Santa Casa de São Carlos na noite de segunda-feira (22) e contou com o trabalho de equipes do Instituto do Coração (Incor), do Hospital Lefort, da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) e do Hospital das Clínicas de Ribeirão Preto. Segundo informações, os órgãos vão beneficiar até nove pacientes.
RIO CLARO
Desde 2001, a Santa Casa de Rio Claro conta com trabalho da Comissão Intra Hospitalar de Doação de Órgãos e Tecidos para Transplantes composta por médico, enfermeiras, fisioterapeutas, serviço social e psicologia. “Todos voltados para uma ação em morte encefálica, desde o diagnóstico até apoio familiar neste momento difícil, em que familiares recebem duas notícias de forte impacto, como a de morte encefálica e doação de órgãos”, explica a Coordenadora de Enfermagem UTI, Cinthia Romualdo.
As primeiras doações em Rio Claro foram feitas em 2009. Da data até o segundo semestre de 2018, foram 41 doadores com 114 notificações. “Dentre as negativas para doação, a maioria se enquadra no desconhecimento da vontade do paciente. Precisa deixar claro para seus familiares a sua vontade, pois a decisão é da família e se torna menos penosa quando se conhece a vontade do doador em vida”, orienta a coordenadora.