O processo eleitoral deste ano foi norteado por falsas notícias, atualmente chamadas de fake news.
Além de termos presenciado as eleições mais acirradas desde o início do processo democrático, foi possível constatar também a propagação diária e incessante de inverdades através da internet, notadamente pelas redes sociais. Nunca se mentiu tanto. A difusão de mentiras durante este pleito eleitoral foi assustadora.
Não houve postulante a relevantes cargos públicos que não tenha sido alvo. No tocante à presidência, decerto os mais visados. O Diário do Rio Claro ouviu importantes formadores de opinião da Cidade Azul para que pudessem discorrer a respeito deste histórico momento em que milhares se deixaram levar por informações infundadas, independentemente da sigla ou ideologia política.
José Rosa Garcia, jornalista, quanto à importância das fake news para a decisão do voto, diz que, embora desconheça estudo relevante sobre o peso destas nas eleições, “é inegável que elas tiveram papel importante na opinião pública durante a campanha”. Para ele, a disseminação de informações falsas e negativas por simpatizantes de determinadas candidaturas e pelos próprios candidatos, porém, não começou agora. “Em 2014, por exemplo, a reeleição da ex-presidente da República, Dilma Roussef, deveu-se em boa parte à imensa rede de supostos blogueiros independentes financiada por meio de verbas governamentais. O grande fato novo deste ano, porém, foi o WhatsApp, um aplicativo que interliga basicamente amigos e familiares, o que aumenta a credibilidade do que é compartilhado”, pondera Garcia.
Indagado sobre o fato destas notícias falsas serem determinantes para as campanhas presidenciais, Garcia afirma pensar que a produção e divulgação de fatos inverídicos foi proporcional entre as duas campanhas que chegaram ao segundo turno. De acordo com o jornalista, o peso dessas fake news, contudo, deve ter sido proporcional à quantidade de simpatizantes de cada candidato que navegam pelas redes sociais. “Nesse caso, Jair Bolsonaro (PSL) obteve larga vantagem, pois somente no Facebook amealhou cerca de 8 milhões de seguidores”, ilustra.
Sobre qual tipo de fake news teria sido mais decisivo, Garcia não acredita que tenha havido esse peso todo, pois, para ele, desde o início da campanha ficou evidente a polarização entre dois extremos. “De um lado o PT, com seu principal líder preso (Luiz Inácio Lula da Silva) e ainda afundado no lamaçal de corrupção revelado pela operação Lava Jato. Do outro, um candidato praticamente avulso, que encarnou a insatisfação de parcela significativa da população com os políticos tradicionais e suas práticas corporativistas”, elucida o jornalista José Rosa Garcia.
O escritor Geraldo José Costa Junior, também procurado pela reportagem do Centenário, opinou acerca do tema. Conforme crê, alguma influência as fake news tiveram, sobretudo para aqueles eleitores que decidem o seu voto na base da emoção, sem aprofundar as questões que se colocam. “Mas não acho que as fake news sejam determinantes para vitória ou derrota de um candidato. O eleitor brasileiro, em sua maioria, amadureceu, é mais atento hoje e sabe separar a verdade da mentira”, presume.
Costa Junior, no entanto, afiança não saber se as informações inverídicas favoreceram uma campanha em detrimento da outra. “E qualquer coisa que dissesse seria mera especulação. Seria temerário apontar essa ou aquela campanha como a mais alimentada pelas fake news sob pena de cometer injustiça. Mas, pelo que se pode observar, acho que foi ‘chumbo trocado’”, supõe o escritor.
Quanto a ter havido maior relevância no aspecto de decisão, diz que, em sua concepção, foi aquela veiculada nas redes sociais. Costa Junior entende que a mídia convencional (no caso, jornal, rádio, revista e televisão) perdeu muito do seu poder de formar opinião junto ao público eleitor, que está mais atento atualmente ao que acontece nas redes sociais, onde as coisas ocorrem em tempo real. “Não acho que seja possível reverter essa situação, porque as novas gerações vão impondo naturalmente seus hábitos e costumes e, assim, vão determinando o andamento das coisas e transformando a sociedade. As fake news, talvez, sejam um ônus da modernidade, com as quais teremos de aprender a lidar”, ajuíza o escritor Geraldo José Costa.
Serginho Carnevale, radialista e apresentador do “Show do Meio Dia”, tradicional programa radiofônico, há décadas no ar pela Rádio Clube AM, ao Número 1, assevera que notícias falsas existem em todos os âmbitos há muito tempo. Para o comunicador, os eleitores precisam conhecer bem seus candidatos e não acreditar, ou aceitar qualquer coisa. “As pessoas que repassam sem critério tudo que recebem, acabam contribuindo com esse caos que estamos vivendo. As fake news desmoralizaram a verdade. As pessoas devem verificar duas mídias de veículos tradicionais, no mínimo. Na ausência de informações confiáveis, desconfie, não repasse e não creia”, avaliza.
Em sua opinião, todas as campanhas, de algum modo ou de outro, foram alimentadas por essas notícias inverídicas, inclusive, no primeiro turno. “Fake news não podem ser relativizadas”, garante Carnevale.
Sobre o peso de decisão neste pleito, o radialista avalia que todas as fake news são nocivas à verdade. “Sendo assim, não merecem crédito e destroem reputações e cenários. Não é possível especificar qual fake news é pior que a outra. Até porque, se trata de mascarar a verdade, e isso não é positivo em nenhum aspecto”, finaliza.