Os casos de violência escolar que vêm se multiplicando, tendo recentemente como trágico marco o atentado à faca praticado por um garoto de 13 anos na Escola Estadual Thomazia Montoro, em São Paulo, no último dia 27, levou nossa reportagem a procurar um profissional de psicologia para obter dele algumas reflexões sobre o tema.
Lembrando que em Rio Claro, Limeira e outras cidades do interior, nos últimos dias, tem sido relativamente frequente o acionamento de forças de segurança, por parte de diretores de unidades de ensino, alarmados com ameaças, postagens em redes sociais dando a entender que algum ato violento está sendo planejado, ou algo parecido.
Sem a pretensão de esgotar um assunto complexo e delicado como esse, obtivemos de Delton Hebling Júnior algumas considerações e sugestões que ele apresenta para prevenção da violência entre jovens praticada no ambiente escolar, que, por definição, deveria ser de harmonia, segurança e respeito, para estudantes, professores e funcionários.
Delton diz que tem pensado muito a respeito e que vê uma mudança muito grande nos padrões de comportamento dos jovens na sociedade. “Antes a imposição era pelo medo da morte (religiões), depois passou a ser o medo das armas (exércitos), depois ainda o medo da palavra (política) e agora a imposição é pela forma de expressão (mídias sociais), sempre ligado à comunicação. Contudo, a principal pergunta é: quem o jovem quer matar quando entra armado numa escola? De onde vem este ódio e para onde vai?”, questiona ele.
O psicólogo enumera alguns tipos de comportamentos. “Insultos, bullying, brigas, pichações, invadiram o cotidiano das escolas nos últimos anos em várias partes do mundo e observamos: seria o que se chama de ‘comportamento imitativo’, seria uma atualização de padrões ou seria mesmo o ódio, projetivo, em cima de professores que poderiam ser pais ou colegas, que poderiam ser irmãos? Enfim, teorias não faltam, mas nada conclusivo”, pondera. “O que sabemos é que esta tendência tem aumentado em todos os países e nós ficamos atônitos ao computar casos mais constantes, continuamos correndo atrás de apagar incêndios sem saber como preveni-los”, acrescenta.
Em família
Delton sugere algumas mudanças de postura dentro das famílias, que ele chama de núcleo fundamental de educação do cidadão. “É preciso não terceirizar a educação da criança para as escolas. O núcleo fundamental de educação continua sendo a família. A criança que não teve boa educação irá se comportar mal quando for colocada em xeque num ambiente escolar”, afirma ele.
Os laços de afeto são fundamentais, alerta o psicólogo. “A afetividade foi deixada de lado infelizmente e isto tem provocado muita tragédia, principalmente nos lares onde predomina o contato virtual e não o afeto: pais, filhos versus celulares”, argumenta.
É preciso, segundo Delton, que os pais demonstrem aos filhos, independentemente da idade, que sempre poderão contar com eles. E, também, repensarmos o modelo de sociedade que valoriza fama e popularidade, em detrimento da capacidade e da inteligência.
Pai e mãe, não colegas
Delton alerta, também, que os pais precisam exercer exatamente esse papel na vida dos filhos, e não o de colegas. “Hoje pais jovens competem com os filhos, não só em estética, como em falta de maturidade”, afirma.
Para ele, essas mudanças no comportamento dos pais e da sociedade podem irradiar uma nova onda de afeto. “Os filhos não precisarão ser assassinos de si próprios, e poderão empunhar abraços e não facas ou outras armas. Os filhos poderão querer permanecer na família e nas escolas, jamais querendo destruí-las”, conclui.
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