Estreia no Canal Brasil, neste sábado (27), a série documental “MPB 73 – O Ano da Reinvenção”.
O programa, que resgata ao longo de seus 13 episódios a importância do ano de 1973 para a música brasileira, tem direção artística de João Faissal e roteiro e direção de conteúdo de Celio Albuquerque – esse último, organizador do livro coletivo “1973 – O ano que reinventou a MPB”.
Um dos autores é o jornalista carioca José Rosa Garcia, que vive em Rio Claro desde 1982 e por duas vezes chefiou a redação do Diário do Rio Claro. Garcia escreveu o capítulo sobre o primeiro disco solo de Elton Medeiros, parceiro mais constante de Paulinho da Viola.
“Com o fim dos grandes festivais da canção, com a queda da presença da MPB nas TVs, muitos afirmavam que havia um hiato na criação da música brasileira. E 73 mostra-se de uma fertilidade ímpar. A série procura esmiuçar esse momento, ouvindo especialistas e alguns personagens”, afirma Célio, que ressalta o trabalho do produtor Roberto Faissal, dos editores Zhai Sichen (que também foi responsável pelas câmeras junto com João Faissal) e Laura Molica e das produtoras Mehane Albuquerque e Ana Lucia Theodosio. “Uma série como essa tem caminhos mais tortuosos e instigantes que seus 24/25 minutos de exibição conseguem transmitir e um trabalho invisível enorme, que só se faz com muita dedicação e prazer”, diz Albuquerque.
Depois dos anos 60, que revelaram grandes artistas como Gilberto Gil, Chico Buarque, Caetano Veloso, Elis Regina e Edu Lobo, entre tantos outros, em seus 365 dias o ano de 1973 apresentou LPs de estreia de Secos & Molhados, Raul Seixas, Luiz Melodia, Gonzaguinha, Raimundo Fagner, João Bosco e Walter Franco, nomes que se tornariam referência para a música popular brasileira.
O programa contextualiza o Brasil e o mundo em 73 para mostrar como o período foi fértil para a produção musical local. Cada episódio trata de um tema específico, como a censura do regime militar, a ascensão do samba, o rock brasileiro, a importância de capas icônicas de LP, a produção fora do eixo Rio-São Paulo e a renovação da bossa nova.
Para isso, a atração convida músicos como Odair José, Charles Gavin e Roberto Menescal, além de jornalistas como Silvio Essinger, Paulo Cesar de Araújo e Renato Terra, para trazer detalhes dos bastidores da época. Cada depoimento é complementado por um extenso trabalho de pesquisa com apresentações e entrevistas de artistas que marcaram o ano e continuam fundamentais para a história da música brasileira.
O apresentador Fernando Mansur abre o episódio de estreia da série classificando 1973 como um desses anos que “acaba se destacando dos outros como se tivessem vida própria, como se participassem da autoria dos fatos, sendo além de espaço temporal para os eventos”, assim como aconteceu com 1808, 1958, 1968 e 1985.
Nos 25 minutos do programa, o historiador Marcelo Ferro, o jornalista Renato Terra e o crítico musical Hugo Sukman contam como os anos de 1958, 1967 e 1968 criaram um terreno fértil para a criação musical em 1973. Em seguida, o publisher Marcelo Fróes e o escritor Zuza Homem de Mello comentam como o fim da “era dos festivais”, que a princípio pareceu que seria bastante negativo para a música, não teve esse impacto no cenário.
“Em 2013, eu me dei conta de que alguns discos de estreia iam fazer 40 anos naquele ano. Aí eu vi que tinha Melodia com “Pérola Negra, Raul com “Krig-ha, bandolo!”, aí eu fui adiante e vi que também tinha Gonzaguinha, Walter Franco. No caso do Melodia, do Raul e do Walter Franco, acho que eram discos muito experimentais, discos de ruptura. E no caso do Gonzaguinha e do João Bosco, eram dicos que não eram tanto de ruptura, mas musicalmente muito importantes.
E todos ali LPs de estreia de artistas que viriam a desenvolver carreiras bem significativas dentro da música popular brasileira. Seja o Raul, o Melodia, o Walter Franco, Gonzaguinha, ou os Secos & Molhados, cada um chegou com uma obra muito pessoal e original, em um momento em que a música brasileira já tinha passado ali pela Tropicália, e que se vivia esse clima de sufocamento da ditadura, das coisas entaladas na garganta e da busca por um passo adiante”, é assim que Silvio Essinger classifica o período.
O primeiro episódio conta ainda com depoimentos do produtor musical Ricardo Moreira (que também atua como consultor de conteúdo da série), do historiador Paulo César de Araújo, do músico Roberto Menescal, do jornalista Marcus Veras. Imagens de discos lançados na época, fotos e imagens de shows criam o clima de 73, que é complementado, é claro, pela trilha sonora com músicas lançadas no ano.