Que brasileiro não é parte de uma história de migração? Quem nunca viveu uma despedida de lugar e pessoas? Quem nunca precisou recomeçar em uma terra desconhecida, com o coração carregado de sonhos e esperança? Na peça “Andêmos”, do grupo Gato Coletivo Artístico, esse universo de chegadas e partidas é o mote que embala as três histórias contadas no palco, “que todo mundo sabe, mas não sabe que sabe”.
São relatos de gente que deixou a terra natal para viver um sonho, um amor ou simplesmente uma nova tentativa de sobrevivência. Baseado em entrevistas feitas no interior do estado com personagens reais, o texto do ator e dramaturgo Anderson Zotesso toca o público ao reunir memórias, afetos, experiências de vida e expressões culturais que, mesmo deslocadas, seguem caminho nas malas dos migrantes.
“Mostrar a vida de pessoas comuns é relevante e necessário. É por meio da oralidade que transmitimos os modos de ser e de viver dos humildes e iletrados, contribuindo para impedir o apagamento de suas narrativas, memórias e identidade. Andêmos exalta essa oralidade por meio do teatro”, diz Zotesso.
A peça traz à cena manifestações culturais tradicionais, tais como a catira e o samba de bumbo (ou samba rural paulista) em sua estética e na construção de sua encenação. Mas as histórias de migração retratadas transcendem as peculiaridades do interior paulista e vão ao âmago do espectador, que se identifica com a universalidade de seus temas: a tristeza da despedida e a esperança dos que partem em busca de uma vida melhor.
A obra é composta por cinco atores e dois músicos (que também contracenam) dentro de um espaço tão simples quanto belo, com objetos que rodopiam criando ambientes na imaginação de cada um. A trilha sonora executada ao vivo envolve toda a dramaturgia, em uma organicidade conquistada na sala de ensaio.
Ao final do espetáculo, a plateia é levada a cantar e dançar quadrinhas centenárias do samba, que, com seu ritmo, atravessam os corpos de atores e do público e movem uma infinidade de culturas ancestrais. O espetáculo, com duração de 60 minutos, chega a Cordeirópolis nesta quinta-feira (2), às 20 horas, no Cine Teatro Ataliba Barrocas que fica na Rua Siqueira Campos, s/nº, na Vila Lídia. A classificação é livre e a entrada gratuita. Mais informações: www.gato.art.br
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