Segundo uma pesquisa recente divulgada pela Organização Mundial de Saúde, hábitos saudáveis, como praticar uma hora de exercícios físicos por dia, cinco vezes por semana, podem previnir o câncer de mama.
Dessa forma, o Diário do Rio Claro entrevistou um renomado mastologista do município, doutor Daniel Buttros, que falou sobre a doença, sobre a importância do diagnóstico precoce e sobre sua recente pesquisa premiada em todos os congressos encaminhados.
Durante o mês de outubro, a campanha de conscientização sobre o câncer de mama, denominada “Outubro Rosa”, é extremamente recorrente. Seu objetivo principal é alertar as mulheres e a sociedade sobre a importância da prevenção e do diagnóstico precoce do câncer de mama. Segundo o mastologista Daniel Buttros, a campanha tem estimulado muitas mulheres a procurar auxílio e cuidados, e a fazer exames preventivos, como a mamografia.
“Embora grande parte da mídia opte por divulgar informações que desestimulam e assustam as mulheres, como mortalidade e consequências do tratamento, essa não é a intenção da campanha, nem da sociedade brasileira de mastologia. Nossa linha é falar sobre prevenção e notícias boas para educar a população”, afirma Buttros.
Segundo o especialista, além do diagnóstico precoce, outro fator que ajuda muito na cura da paciente é a qualidade de vida que ela leva pós-diagnóstico e tratamento. Combater a obesidade, combater hábitos ruins de vida, exercício físico regular, dieta adequada e conseguir lidar, do ponto de vista psicológico, com a doença são fatores que contribuem para a cura.
“Isso significa que quem pratica essas recomendações, tem um seguimento muito mais saudável do que quem não faz. A doença traz um estilo de vida muito sedentário, o tratamento é cardiotóxico. Além do apoio psicológico, a família pode adotar um estilo de vida saudável para ajudar no tratamento da paciente”, explica o doutor.
De acordo com o mastologista, a cura do câncer de mama é totalmente dependente do estágio em que ele é diagnosticado. Isto é, quanto menor o tamanho da doença, mais fácil pode ser o tratamento. O que não significa, segundo ele, que nódulos e doenças maiores sejam intratáveis. “Quanto menor, melhor. A gente não tem que ter medo do câncer de mama.
Na maioria das vezes, quando a mulher é diagnosticada com a doença, ela pensa que dias ruins virão e que sua vida está acabada, mas não é assim. Hoje em dia, existem excelentes tratamentos, principalmente para a doença precoce, mas mesmo com diagnóstico avançado é possível tratar e operar”, explica o médico.
PREVENÇÃO
Buttros relata que antigamente no Brasil se falava muito do autoexame das mamas, isso, porém, está passado. “O correto é realizar a mamografia. Ao contrário do que muitos pensam, esse exame não previne, ele faz o diagnóstico precoce”. Buttros explica que após os 40 anos, toda mulher deve fazer a mamografia anualmente e que, antes dessa idade, pode ser feito com a indicação do médico, em casos muito específicos.
Em relação à prevenção, as recomendações sobre adquirir uma vida saudável, dadas pelo especialista, prosseguem. “Ainda que pouco, uma alimentação saudável, manter o IMC abaixo de 25 (Peso(kg)/altura2(metro)=IMC), ter uma vida feliz e leve, diminui a incidência do câncer de mama. “Isso é científico, mas o risco ainda existe”, relata o doutor.
Outro ponto importante levantado por ele é a questão do histórico familiar. Segundo o doutor, apesar de casos na família aumentarem o risco para surgimento da doença, isso só ocorre com histórico de mãe e irmãs com câncer de mama precoce. “É importante desmistificar um pouco isso. Apenas 15% dos casos são casos de câncer de mama hereditário”, conta o mastologista.”
FILA ZERO EM RIO CLARO
Doutor Buttros ressalta que em Rio Claro, de janeiro de 2017 a setembro de 2018, mais de 9 mil mulheres realizaram mamografia, o que zerou a fila do SUS (Sistema Único de Saúde) para esses exames. Desde então, a realização dos exames é feita com espera de apenas alguns dias e, quando necessário, em até três semanas a mulher já está iniciando o tratamento da doença. “Isso é quase inédito no âmbito da saúde pública nacional. Não existe fila de espera para para o câncer de mama em Rio Claro”, afirmou ele.
Segundo a Assessoria da Prefeitura Municipal, através do trabalho do Espaço Mais Saúde, do Ambulatório Médico de Especialidades (AME) e da Santa Casa, 4.023 exames foram feitos em 2017 e mais 5.539 em 2018, totalizando 9.562 mamografias realizadas no período.
PESQUISA
O mastologista Daniel Buttros, recentemente, desenvolveu uma pesquisa que integrou seu estudo de doutorado e do mestrado do médico Mauro Branco, vinculados ao Programa de Pós-graduação da Faculdade de Medicina de Botucatu/Unesp. A pesquisa, aprovada pelo Comitê de Ética da Universidade e pela Santa Casa, revela que mulheres com câncer de mama tem maior risco de desenvolver doenças do coração/cardiovascular do que mulheres sem câncer de mama.
Sobre o estudo, Buttros explica que a pesquisa traz uma grande contribuição, pois demonstra com dados estatísticos que as mulheres com câncer de mama têm mais prevalência de placa de aterosclerose do que mulheres sem câncer de mama, além de serem mais hipertensas, diabéticas e terem triglicérides acima da normalidade.
“Esses resultados são importantes sob o ponto de vista clinico, demonstrando que as pacientes tratadas de câncer de mama devem ser abordadas não só com o foco oncológico, mas também com tratamento e prevenção das doenças cardiovasculares. O estímulo à mudança de estilo de vida com exercícios físicos e dieta é fundamental. O estudo demonstrou que 87,5% das mulheres tratadas de câncer de mama eram sedentárias.” explica o especialista.
A pesquisa contou com um grupo de 96 mulheres tratadas de câncer de mama, todas de Rio Claro, além de um grupo controle com o dobro de mulheres, 192, sem câncer de mama, para que fosse feito o comparativo dos dados. Além disso, a pesquisa foi premiada em todos os congressos que ela foi encaminhada.
Foi eleita como o melhor trabalho na 13ª Jornada Paulista de Mastologia em 2017, no Brazilian Breast Cancer Symposium, ganhou o terceiro prêmio no Congresso Paulista de Ginecologia Obstetrícia, esteve entre os cinco melhores, e novamente na Jornada Paulista de Mastologia 2018, que aconteceu na semana passada, o segundo lugar foi garantido com sucesso.
Em dezembro deste ano, o estudo será apresentado no congresso americano de câncer de mama, o San Antonio Breast Cancer Symposium, onde será apresentado pela última vez antes de ser publicado em revista médica.
O estudo começou a ser criado em 2015 e terminou em 2018. “Foram quase três anos de pesquisa. Com a finalização desse estudo, o intuito é trazer os benefícios para a nossa população local e atingir também a população nacional e até internacional. É um estudo inédito dentro do Brasil, embora na literatura mundial não seja o único, nem o maior. Nós vamos continuar com estudos aqui em Rio claro relacionando o câncer de mama com doenças cardiovasculares para, assim, possibilitar o melhor à população”, conclui doutor Buttros.