Vinte e oito minutos do primeiro tempo, o craque Lionel Messi parte em direção à bola pra deslocar o goleiro Lorris, da França, e colocar a Argentina em vantagem no placar da final da 22ª Copa do Mundo de seleções. Treze minutos depois, Angel Di Maria recebe livre na esquerda dentro da área e com rara habilidade bate de pé esquerdo cruzado, rasteiro, sem chances para Lorris. A Argentina fazia 2×0 e tão esperado terceiro título mundial parecia nunca estar tão perto. Mas…
Em se tratando de Argentina, tudo deve ser difícil, chorado e dramático como um tango de Gardel, o mais famoso cantor e compositor argentino que, alguns dizem, era nascido na França. Foi assim que se tornou difícil e desesperador o que parecia tão fácil, o jogo final da Copa do Mundo Fifa Qatar 2022.
A vitória da Argentina, nos pênaltis, por 4×2, após empate de 2×2 no tempo normal e de 1×1 na prorrogação, veio colocar fim a um jejum títulos de mundiais de seleções que já durava 36 anos, mais exatamente, desde que Maradona conduziu a seleção Argentina à conquista do bi mundial em terras mexicanas.
Curiosamente, o enredo da final de domingo (18) parecia repetir aquele de tão saudosa memória para os fãs de Maradona. Em 1986, contra a Alemanha, a Argentina chegou a abrir 2×0 no placar, mas também cedeu o empate de 2×2 no tempo normal. A diferença é que há 36 anos, na prorrogação, o ponteiro Burruchaga recebeu primoroso lançamento de Maradona, ganhou na velocidade dos alemães que se derretiam no calor insuportável da Cidade do México, e estufou as redes de Schumacher.
A Alemanha, porém, naquela oportunidade, não tinha M’bappé, a França, sim. E o camisa 10 francês parecia mesmo determinado a impedir o feito dos argentinos no último domingo e a conquistar o bicampeonato mundial para a sua seleção, igualando os feitos de Itália em 1934 e 38 e Brasil, em 58 e 62. O astro do futebol francês que terminaria como artilheiro da Copa fez os três gols de sua equipe, buscando a igualdade no marcador, nas duas vezes em que a França estava em desvantagem, no tempo normal e na prorrogação.
Em ambas oportunidades, a Argentina experimentou a frustração já bastante conhecida, quando já podia sonhar com a mão na cobiçada taça. O olhar incrédulo dos argentinos nas arquibancadas do estádio Lusail, em Doha, se misturava ao desespero. Sentimento que se tornou ainda maior, quando M”bappé, a dois minutos do final da prorrogação, deixou tudo igual novamente no placar, batendo pênalti.
Mas o desespero argentino logo cedido sentimento de alívio, quando o goleiro Emiliano Martinez, em uma defesa monumental, salvou o gol da vitória francesa no último lance da prorrogação.
Então vieram os pênaltis. E se com a bola rolando não faltaram fortes emoções, de parte a parte, nas cobranças da marca da cal não fora diferente. Na primeira rodada, M’bappé e Messi tomaram a responsabilidade pra si e abriram a série convertendo suas cobranças. Mas, na sequência, Coman, que havia entrado muito bem no jogo, desperdiçou a sua e Dybala botou os argentinos em vantagem. Depois, Tchouameni voltou a perder para a França e Montiel, com categoria e tranquilidade fez o gol do título e foi festejar com os torcedores atrás do gol.
Explosão de festa dos argentinos em Doha e Buenos Aires. No Brasil, alguns simpatizantes do futebol argentino e fãs de Lionel Messi, autor de dois gols na final, também vibraram bastante. A festa varou a madrugada nas ruas de Buenos Aires.
Finalmente, depois de tantas frustrações e o drama da perda de seu maior ídolo, Diego Maradona no ano passado, os argentinos puderam finalmente comemorar o título do tricampeonato mundial de seleções. Conquista mais que merecida, que coroa o excelente trabalho do técnico Lionel Scaloni. Enfim, tanto tempo depois, os argentinos puderam escrever um tango com final feliz.
Mais premiações
Além da conquista do título pela Argentina, a Copa do Mundo premiou também o camisa 10 Kylian M’bappé, da França, artilheiro com 8 gols. O craque Lionel Messi foi escolhido o melhor jogador da Copa e a revelação do mundial foi o também argentino Enzo Fernandez. Além deles e com muita justiça, o goleiro Emiliano Martinez ganhou o prêmio de Luva de Ouro.
Próxima parada
Segundo a Fifa, a Copa do Mundo de 2026 terá três sedes: Estados Unidos, México Canadá. A outra novidade é que o mundial de seleções será disputado por nada menos que 48 seleções e não mais com 32 como atualmente. O formato de disputa, entretanto, ainda está em discussão.
Por Geraldo Costa Jr. / Foto: Andres Kudacki/AFP.