Com o avanço da tecnologia, muitos termos em inglês foram incorporados no dia a dia. Isso já vinha acontecendo desde quando fax e CPU apareceram na lista de itens obrigatórios de um escritório. Dali para frente a coisa só piorou. De tão frequentes no cotidiano, há quem jure que termos em inglês são na verdade ‘brasileiros’ ou até mesmo inove – como todo bom tupiniquim – aportuguesando o Tio Sam. Que o digam as tias do ‘zap’.
Pois bem, a nova onda é o tal SEO, que fique claro que não falo de CEO, antes que as fãs de ’50 Tons de Cinza’ se empolguem. Para os nascidos antes dos anos 2000, vale a pena esmiuçar do que trato. SEO é a sigla para Search Engine Optimization (em português, otimização de mecanismos de busca), enquanto que CEO é Chief Executive Officer (ou Diretor executivo).
Feitas as devidas distinções, fica o questionamento: o que todos temos a ver com isso? Os profissionais da escrita e da leitura, certamente tem muito mais do que todo o resto, mas ainda assim a questão impacta a todos. O tal SEO é o modelo de texto adotado pelos mecanismos para facilitar a pesquisa na internet. Sabe quando você digita na barra do seu navegador “como desentupir a pia” e a resposta vem prontinha, até com vídeos e imagens?
A isso chamamos SEO, uma estrutura de texto tão perfeitamente encaixadinha que resulta na resposta rápida que todos procuram. E tudo bem, se isso resolve o problema da maioria, se a Alexa consegue passar a receita do risoto sem nem precisar abrir o celular, se a idade da Glória Maria pode ser consultada só digitando o nome dela e outras tantas respostas – muito úteis – que todos procuramos e nos são dadas prontamente.
Mas, pessoalmente, o grande problema disso tudo aí é quando chega até o profissional da escrita. Pense só, não há mais lugar para o bom escritor, para o bom jornalista, para o bom compositor, para aquele criativo, inovador e excelente frasista. O mercado quer o ‘bot’ (robô) que escreve a fórmula pronta e repete cinquenta vezes o mesmo termo no mesmo parágrafo, só para ser melhor identificado pela máquina.
É uma maravilha! Humanos escrevendo como máquinas, para que as máquinas entendam e traduzam para humanos. Se contassem isso a Asimov ele não acreditaria, ou então arremataria: eu avisei! Enquanto isso o mercado de trabalho é impiedoso e exige um curso de SEO no seu LinkedIN.
Eu me recuso. Como ir contra tudo que se estudou, aprendeu, leu e se dedicou para não incorrer em incoesões referenciais e sequenciais, para depois fazer textos que mais parecem de criança em alfabetização. Obviamente, sem querer ofender a quem domina a técnica ninja de escrever em SEO.
Porém, o medo é de começar a escrever como máquinas e logo menos não conseguir voltar a ser humano. Será que a partir do momento em que eu iniciar e me habituar aos textos mecânicos terei humanidade suficiente para escrever um texto sensível, com boas frases, analogias criativas e composições únicas? Será mesmo que a tecnologia faz tão parte de nossa vida que será capaz de dominar até mesmo nossa linguagem, já não bastasse os costumes, o tempo de concentração, a capacidade de interação e tudo o mais?
Por isso continuo me recusando a baixar as guardas para o SEO. Sigo com as frases longas, os pensamentos descompassados e as analogias, às vezes nem tão análogas, mas que criam figuras de linguagem diferentes o suficiente para voltar a linha anterior e ler uma mesma frase duas vezes para tentar entender uma palavra nova. Sim, eu tenho medo do SEO.
Vivian Guilherme
A autora é jornalista e escritora, mestre em Ciência, Tecnologia e Sociedade. E-mail: vivian.guilherme@gmail.com