Nascido no dia 19 de janeiro de 1940, Pedro Nadai foi figura carimbada nos confrontos futebolísticos da metade do século passado na Cidade Azul.
Chegou à Vila Paulista contando apenas cinco primaveras, vindo de Ipeúna, juntamente com os pais e os irmãos e, ali nas ruas de terra de um dos bairros mais tradicionais de Rio Claro, iniciou a sua trajetória dentro das quatro linhas. “Em 1955, estava com 15 anos e fui assistir a um treino no Campo da Matarazzo, onde agora é o Estacionamento do Shopping, e alguém disse: ‘está faltando jogador, não quer entrar?’. Disputei quatro jogos, porque a competição já estava no final; em 1956, joguei o campeonato inteiro; e, em 1957, a Fábrica Matarazzo começou a ajudar e então levantamos o time”, relembrou.
Para compor o Memorial, a reportagem do Diário Esportes chegou à casa do entrevistado em uma manhã chuvosa de setembro, o que colaborou para aflorar o sentimento de saudade que, comumente, toma a mente e o coração dos que viveram intensamente e que têm boas histórias para contar. Pelos Caminhos do Futebol, Nadai entrou na empresa têxtil e ganhou um ofício que exerceu com primazia entre os dias 2 de maio de 1958 e 11 de junho de 1990.
“Na época, só entrava na Matarazzo quem jogasse bola e, até aquele momento, trabalhava como marceneiro. Estava no elenco, mas não na fábrica e, por isso, fui treinar com o Guacho do Rio Claro FC, que havia prometido trabalho na Cia. Paulista. Porém, logo que os dirigentes da tecelagem souberam, fui contratado e, a partir daquele dia, não pude mais competir por outro clube”.
A exclusividade era um dos quesitos na agremiação, que reunia os melhores jogadores da cercania, contudo, Nadai chegou a jogar emprestado para a AE Velo Clube. “O Benito [Agnelo Castellano] foi como que um pai, pois quando o meu pai morreu, ajudou com o inventário da família.
Aliás, quero contar uma molecagem que fiz e que o querido Benito morreu sem saber: em 1966, teve um confronto entre AE Velo Clube e Barretos EC e, como não tinha dinheiro para entrar no estádio, ficava espiando pelo buraco do muro na Avenida 23. De repente, chutaram a bola por cima do alambrado que caiu lá adiante no meio do mato; corri atrás e a trouxe para a Vila, porque tínhamos apenas uma e, na ocasião, ter outra ajudaria, e muito, nos nossos treinos.”
Até encerar a carreira aos 28 anos, data em que contraiu matrimônio, Nadai disputou um Campeonato Regional, cuja lembrança ainda mareja os olhos. “Enfrentamos o EC Noroeste, em Bauru, com Doca – o irmão do Pelé – em campo na preliminar de São Paulo FC com os donos da casa e perdemos de 3X1, porém, foi um dia memorável.”
Outro acontecimento que gosta de rememorar foi a vez em que pegou castigo por não manter a postura durante a Formação no Tiro de Guerra. “Peguei guarda por um deslize de postura e o Sargento Valdomiro disse que perdoaria caso fizesse dois gols em uma disputa contra o Rio Claro FC, na qual o Azulão tinha larga vantagem. Dito e feito. Vencemos por 5X1 com dois gols meus, mas, na prorrogação, infelizmente perdemos por 2X1.”
Com relação às diferenças percebidas na modalidade esportiva, Nadai foi catedrático: “antigamente, o futebol era muito mais técnico e, atualmente, uma correria danada. Hoje, o atleta marca um gol e é Deus, antes, marcava dez e, quando perdia um, a torcida chiava”. Amigos? Do peito, apenas três: “Benito, Caetano e Pepino”, enfatizou. Sobre as maiores conquistas, o palmeirense de 78 anos julga terem sido os Troféus de 1958, 1965 e 1966, que conquistou junto com o escrete da AA Matarazzo.
Entretanto, o fato mais extraordinário da carreira desse simpático futebolista, que ainda tem muito a ensinar aos entusiastas dos gramados, certamente são os 15 gols que marcou em uma única partida! Isso mesmo! A maior goleada da História do Futebol Rio-Clarense teve a sua assinatura quando marcou 15 gols dos 27X0 contra o Vila Nova FC, no Estádio Benitão. Vale destacar que o feito apenas não entrou para o Livro dos Records devido ao descuido do mesário, que não lavrou a ata do inesquecível combate. Todavia, o importante é que Pedro Nadai segue firme e forte lembrando casos e enriquecendo a Memória Futebolística da Terra de Ulysses Guimarães!
SELEÇÃO DE TODOS OS TEMPOS
Jorge [goleiro], Jatobá [lateral-direito], Vail [beque central], Zampim [centromédio], Alvinho [lateral-esquerdo], Pepino [volante], Pedrão [ponta-direita], Salomão [meia-direita], Nadai [centroavante], Toniquinho [meia-esquerda] e Pimpão [ponta-esquerda].
AA MATARAZZO
De acordo com o Livro Futebol Amador e Varzeano em Rio Claro – importante obra futebolística produzida pelo Estúdio Panda Pix, com coordenação de Maria Tereza de Arruda Campos e José Roberto Sotero – a Associação Atlética Matarazzo foi fundada no dia 1º de fevereiro de 1939 e encerrou as atividades na década de 1970. Ao longo de sua trajetória, acumulou o Título Varzeano de 1950 e os Troféus de Grande Campeão do Amadorzão nos anos de 1957, 1958, 1960, 1961, 1965, 1966 e 1971.
DEPOIMENTOS
CARLOS FREDERICO RONCOLI
O empresário Carlos Frederico Roncoli – que, à época, atuava como Secretário da AA Matarazzo -, expôs à reportagem do Diário Esportes que Pedro Nadai sempre foi um homem de extremo valor, sobretudo, em campo quando defendia a camisa da agremiação formada na Indústria Têxtil. “Estive naquele jogo em que Nadai marcou 15 dos 27 gols contra o Vila Nova FC, no Estádio Benitão. Durante muito tempo, foi Artilheiro do Campeonato Amador de Rio Claro, jogava muito de centroavante e tinha características que, fosse nos dias atuais, poderia ser equiparado a Grandes Astros do Futebol. Além de um amigo querido, que merece todas as homenagens possíveis, porque tem como marca a humildade e a dedicação ao Esporte.”
DJALMA DE PAULA
O ex-jogador Djalma de Paula, que atuou junto com Pedro Nadai na AA Matarazzo, também contribuiu para reportagem especial e expôs ao Diário Esportes que o entrevistado foi um dos maiores jogadores com quem dividiu as quatro linhas. “Era um atleta completo que cortava por todos os lados, chutava com os dois pés e finalizava como ninguém. A gente trabalhava junto na Fábrica Matarazzo e tanto dentro de campo, quanto na vida profissional, tinha boa índole, o que sempre foi um reflexo de sua vida pessoal. Fazia de tudo para ajudar os companheiros e quando estava com a bola no pé era gol na certa, foi o maior artilheiro com quem tive o prazer de jogar!”
GERALDO ARASSO
O Presidente da Liga Municipal de Futebol [LMF], Geraldo Arasso, fez questão de comentar sobre Pedro Nadai quando procurado pela reportagem do Diário Esportes. “O Pedrinho foi um atleta exemplar, disciplinado, nunca deu problema algum à Liga, tampouco aos árbitros. Era um craque de bola, centroavante dos bons e artilheiro em várias edições do Campeonato Amador de Rio Claro. Teve chance de seguir em vários clubes profissionais e, na minha concepção, será uma Eterna Lenda da Cidade Azul.”
FRASES
Durante a entrevista, Nadai soltou várias frases de impacto que o Diário Esportes traz em destaque, confira:
“Não me conformo em ver os jogadores atuais cabeceando com os olhos fechados.”
“O melhor treinador que tive foi o Mazico que, àquela época, já trabalhava com esquema tático.”
“O XV [de Piracicaba] queria que fosse jogar lá. Combinei com o Dorival para que esperasse na rodoviária, mas não fui, porque éramos em nove em casa e tinha responsabilidades com os meus irmãos mais jovens.
TIME 1961
EM PÉ: Jorge, Estrepe, Lolo, Adilson, Luizão, Alvinho, Geraldinho, Passarinho, Pedrão e Toniquinho. AGACHADOS: Rubens, Arlindo De Gea, Belanzinho, Pedro Nadai, Jatobá, Pimpão, Lambreta e José Cantiero.
TIME 1965
EM PÉ: Mazico [Treinador], Boinha [Massagista], Tadeu, Jorge, Alvinho [o Mortadela], Juninho, Bodinho, Geraldinho e Zampim. AGACHADOS: Gilberto, Pedro Nadai, Arlindo De Gea, Foguinho, Orides e Armando Cipolla.