Seus principais biógrafos a revelam em permanente sacrifício, martirizando-se nas canções sob o mesmo foco que iluminava outras divas da música pop como Judy Garland, Edith Piaf ou Billie Holiday.
De sua escola nasceram seguidoras, grandes estrelas, como Ângela Maria e Maria Betânia. Wanderléa começou profissionalmente aos 14 anos cantando músicas da Rainha da Voz.
O começo
Dalva de Oliveira foi para o Rio de Janeiro quando tinha 17 anos de idade, em 1934. Chegou acompanhada da mãe Alice, das três irmãs e da pobreza para morar em um cortiço e batalhar pelo sonho de ser artista, ser cantora de rádio e conseguir sustentar a família.
O Rio se modernizava e poderia ser o local da grande chance. A capital do país, no entanto, limitava-se a duas classes sociais: ricos e pobres. Mudar esse quadro era algo que exigia além de grande esforço, muito talento. Dalva mostraria dispor de ambos em escala jamais vista.
Raízes
De Rio Claro levou a lembrança feliz e amorosa do falecido pai e mestre, que lhe ensinara música, postura no palco, interpretação de textos. Levava do interior a memória de amigos e amigas da infância pobre, mas feliz, sempre marcada pelo apoio incondicional da mãe.
Sucesso
Com esse alicerce chegou ao topo em três anos. Quinze anos depois iria muito além do que qualquer brasileira poderia imaginar: cantar para a Rainha da Elisabeth II, da Inglaterra, nas comemorações da sua coroação; apresentar-se na Torre Eiffel e tornar-se o primeiro artista nacional a excursionar pela Europa. No Brasil era eleita Rainha do Rádio em 1951 e ganhava o título de Rainha da Voz, até hoje sem sucessora.
De personalidade forte para uma mulher ainda mais forte, foi uma das pioneiras a lutar contra machismos e a submissão feminina, postura que lhe custaria a paz até a sua morte, em 1972.
Fases
Sua primeira fase de sucesso, dos 17 aos 20 anos de idade, deu-se com conquista das emissoras de rádio, apresentações em shows, teatros, cassinos e parcerias com cantores como Vicente Celestino e Noel Rosa.
Formou o Trio de Ouro, com Nilo Chagas e Herivelto Martins, estrela de primeira grandeza na época, com quem casou a e teve o primeiro filho, Pery Ribeiro, e depois Ubiratã Martins, futuro diretor da Rede Globo e produtor do Fantástico. Foi nesta fase que gravou com Francisco Alves, o Rei da Voz.
Polêmica
A separação do marido, em 1947, e do Trio de Ouro, em 1949, para início da carreira solo custou-lhe definitivamente a paz. Paz que já não conseguira quando casada. O marido era violento. Ela nada submissa e polêmica. A vida de ambos foi combustível para mobilizar a imprensa sensacionalista com escândalos.
A trajetória
Comprovado que Dalva mantinha-se com maior sucesso na carreira solo, a disputa do casal ganhou traços de guerra.
Articulado a jornalistas, Herivelto foi meticuloso em desmoralizar e humilhar a ex-mulher. Querida pelos artistas, muitos compositores e cantores tomaram as dores de Dalva. Letras especiais foram compostas para ambos. Ela e Herivelto atacaram-se através de canções polêmicas que se tornaram famosas.
Em meio à sordidez dos ataques, Dalva chegou ao auge da carreira. Casou-se com um argentino em Paris e buscou paz morando em Buenos Aires. Casou-se novamente em 1963, com um garçom 20 anos mais jovem. A imprensa não a perdoava por seu comportamento firme e independente.
Retorno e o fim
Sobrevivente em 1965 de grave acidente de carro com três mortes, no Rio, Dalva deixou a vida artística por cinco anos, em busca de refúgio no bairro Jacarepaguá, no Rio. Retomou a carreira em 1970. Lançou um dos grandes sucessos do ano e seu último, Bandeira Branca, como que pedindo a paz que tanto queria, mas nunca encontrou.
Deixando um legado artístico e cultural com participação em14 filmes e mais de 300 gravações, morreu de hemorragia no Rio no dia 30 de agosto de 1972, às 17h15, aos 55 anos.
TESTEMUNHOS
Maestro Villa Lobos
“A maior cantora popular do Brasil.”
Maestro Júlio Medaglia
“Absolutamente ciente da qualidade do seu stradivarius vocal, Dalva emitia as notas da melodia com a clareza e segurança de uma cantora lírica.”.
Maestro Pedro Cameron
“A impostação de cantora lírica cantando música popular fazia de Dalva única. São gêneros que não combinam, mas na voz de Dalva de Oliveira a harmonia era perfeita.”.
Dona Canô, mãe de Caetano Veloso e Maria Betânia.
“Em casa, todos somos admiradores de Dalva de Oliveira. Maria Betânia e Caetano a veneram. Tenho uma caixa com discos só dela.”.
Caetano Veloso
“Ave Maria do Morro gravada por João Gilberto é uma perfeição. O mais importante é que exatamente nos trechos em que Dalva mostrava suas notas mais agudas, João faz silêncio, o que leva imediatamente a lembrar de Dalva. É uma homenagem a ela.”.
Maria Betânia
“Em casa, sempre me peguei cantando músicas muito apaixonadas, ainda sempre lembradas através de gravações da extraordinária Dalva de Oliveira. A Dalva tinha coragem, um jeito de cantar no palco que até uma época eu só tinha coragem de cantar dentro da minha casa.”.
Gilberto Gil
“Dalva de Oliveira foi uma das maiores divas da sua geração, uma cantora extraordinária, de voz inconfundível. Dalva teve uma vida marcada por muitos desafios, que a tornaram grande, esplêndida. Nossa estrela Dalva hoje continua a brilhar, intensa e cativante, como guia no céu estrelado da música no Brasil.”.
Rita Lee
“Rio Claro é terra de Ulysses Guimarães, eu sei, porém sou mais Dalva de Oliveira.”.
Carlinhos Brown
“Minha formação sofreu diversas influências. Por exemplo, na adolescência eu gostava de Dalva de Oliveira.”.
Agnaldo Timóteo
“Sua voz era inigualável. Dalva era uma das minhas rainhas. É lamentável que as novas gerações não saibam muito sobre isso. Bom seria se os governantes atentassem para o passado como fazem com o presente. Felicidades a Rio Claro, terra de Dalva.”
Luiz Pacheco Drumond, presidente da Imperatriz Leopoldinense
“Foi uma honra para a nossa escola desfilar em homenagem à maravilhosa rio-clarense Dalva de Oliveira, a Rainha da Voz de todos os tempos”.
Por J.R.Sant´Ana / Fotos: Divulgação