Certa feita, um homem escreveu que, a preparação para a vida após a morte é como fazer uma longa viagem. Não faz sentido levarmos o que não nos será útil. Devemos saber que na espiritualidade as joias, o dinheiro, e orgulho não tem valor. Mas a bondade, a compreensão, a tolerância e o perdão, são moedas valiosas. Seu nome era Hippolyte Léon Denizard Rivail, mas ficou conhecido como Allan Kardec, pseudônimo que adotou para diferenciar o seu trabalho como pedagogo e escritor, daquele outro, que viria a conduzir com rara habilidade, competência e humildade, a codificação da Doutrina dos Espíritos.
Kardec talvez tenha sido o mais brilhante repórter que a humanidade conheceu. Suas 1019 que tratam sobre o mundo e a vida dos espíritos tem por objetivo esclarecer a humanidade para a nova ciência que surgia em meados do século XIX e que segundo as palavras do próprio Kardec revelava aos homens, por meio de provas irrecusáveis, a existência e a natureza do mundo espiritual e suas relações com o mundo material.
Uma ciência que mostra o mundo espiritual, não mais como sobrenatural, mas, pelo contrário, como uma das forças vivas e incessantemente atuantes na natureza, e como a fonte de uma infinidade de fenômenos até então incompreendidos, e por essa razão rejeitados para o domínio do fantástico e do maravilhoso.
Mas fizera mais a Doutrina dos Espíritos, ou simplesmente Espiritismo, explicou que sem o princípio da preexistência da alma e da pluralidades das existências, a maior parte das máximas do Evangelho de Jesus são ininteligíveis, e por isso têm dado motivo a interpretações tão contraditórias, sendo esse princípio, ou seja, a reencarnação, a chave que deve restituir o verdadeiro sentido dos ensinamentos de Jesus.
O Espiritismo além de esclarecer e, portanto, chamar a humanidade à responsabilidade perante a vida, também consola, porque demonstra que toda moral de Jesus se resume na caridade e na humildade, ou seja, nas duas virtudes como sendo o caminho da felicidade eterna. Amar o próximo como a si mesmo, fazer ao próximo o que desejar que ele vos faça; amar os inimigos, perdoar as ofensas para merecer perdão, fazer o bem sem ostentação, julgar a sim mesmo antes de julgar aos outros. O que Jesus disse em parábolas, que era o modo apropriado para se comunicar com a humanidade do seu tempo, o Espiritismo fala abertamente, para entendimento de todos.
Nesses tempos em que o materialismo e o consumismo ocupam a atenção das pessoas, muito além do que deveria, tornando-as mais egoístas, o Espiritismo também dá a sua contribuição na forma de esclarecimento e conforto, quando demonstra que o homem não possui como seu senão aquilo que pode levar deste mundo.
E o que ele encontra ao chegar e o que deixa ao partir, goza durante sua permanência na Terra; mas, desde que é forçado a deixá-los, é óbvio que só o tem o usufruto, e não a posse real. O que então, possui o homem? Nada do que se destina ao uso do corpo, e tudo o que se refere ao uso da alma: a inteligência, os conhecimentos, as qualidades morais.
Mais do que demonstrar a existência do mundo espiritual, a vida de relação entre seus habitantes (eles, os desencarnados) e os habitantes do mundo material (nós, encarnados), o Espiritismo convida o ser humano ao aperfeiçoamento moral, caminho seguro, e mais curto, embora mais difícil, para alcançar a felicidade e a perfeição, moral e intelectual, para a qual está destinado desde sua origem.
Fez e disse muito mais o Espiritismo. Em suas cinco obras básicas, que são: O Livro dos Espíritos, o Livro dos Médiuns, O Evangelho Segundo o Espiritismo, O Céu e o Inferno, e A Gênese, está todo o conhecimento que disponibiliza à humanidade. Impossível começar a entendê-lo e conhecê-lo profundamente, sem ler e estudar essas obras literárias.
E tudo isso nos foi possível graças ao trabalho de um homem, nascido em 3 de outubro de 1804, em Lyon, na França, que se dedicou com afinco a essa causa até o último instante de sua vida, e que sofreu perseguições, a intolerância da igreja romana e também de seus pares do meio científico, mas que, apesar de todas as dificuldades, jamais desanimou.
Ao contrário, com método, didática, clareza e imbuído de sentimento altruísta e humilde, sem reivindicar nada para si, legou à humanidade, importante contribuição, sem paralelo, visando o esclarecimento e o conforto espiritual de todos, sem distinção entre uns e outros.