O poeta Castro de Alves nos deixou no dia 6 de julho. O ano? 1871. São 150 anos sem Castro Alves. O legado do bardo dispensa adjetivos. Mas, como gosto de trocar uma ideia com adjetivos aqui e em outros cometas, vou aplicá-los sim, quando necessário: será que compensa? Sim, é claro que compensa: adjetivo bom é ritmo que pensa.
E o nosso craque Castro Alves roubou a cena precoce. Tinha atitude. E, como todos os heróis da lírica romântica tupiniquim, foi-se embora jovem demais: aos 24 anos. Drummond diz que ele era um prodigioso, talentoso craque, em pleno desenvolvimento da pena. De uma lírica talvez sem noção de medida, contudo genial em sua desmedida explosão individual e de senso coletivo. Sua lírica era poderosa, combativa corajosa, como corações das ruas celebrado em voz ativa, tempestade alva, o direito de resposta: uma trovoada tão vital diante do lugar comum e passividade geral. Beberemos dele pra sempre.
Condoreiro, terceira geração, terceiro mundo. Castro Alves está vivo estileteando preconceitos, derrubando muros, cutucando neblinas, de estilo impiedoso, altivo. Céu e mar no insano abraço. A natureza da poética que transcende Gonzaga, transcende o palco, eterno golaço. Viva Castro Alves, o poeta dos vulcânicos versos. Castro Alves, brutal guerreiro do Navio Negreiro. A todo tempo a todo instante, romântico gigante. Do lirismo arrebatador. De “Espumas Flutuantes”. Dos quadros da condição humana pintados, lavrados. Poemas visuais, estradas e mares, poemas orais, poemas seminais. Que levou Jorge Amado a compor o ABC de Castro Alves. Que perdeu o pé, que cursou Direto: brumas montes campas, viceja a dramática estampa. Castro Alves é vingança. Castro Alves é resistência.
O navio negreiro me arrebatou pra sempre. É o canto abolicionista que me invade as esquinas dos dias – quebrando algemas nos braços, denunciando traumas, velhos descasos. Na capital baiana Castro Alves fingiu que morreu. Manobra conhecida. Cabelos revoltos, retórica como dinamite, Castro Alves vive é pleno, canto ardente, indignada chama que nos energiza de verdade. Viva, viva Castro Alves, poeta da liberdade!