Foi no dia 14 de março, que o professor Vinício Carrilho Martinez pisou pela última vez na rua. Naquele sábado, após retornar de suas funções na Universidade Federal de São Carlos (UFSCAR), soube dos aconselhamentos do Governo do Estado e acatou as determinações, mantendo-se em quarentena desde então.
O professor conta que decidiu seguir corretamente as determinações por duas noções básicas: “a primeira é porque acredito muito na ciência, e também porque me encontro nessa possível faixa de risco, pela idade e porque tenho outros componentes como pressão alta e sou fumante”. Ele destaca a importância da consciência do isolamento não só para si, mas também para o próximo, a fim de que não contamine o outro também.
Nos últimos 110 dias, suas únicas companhias foram Nenê – sua gatinha – e uma moça, que vai a sua casa a cada dois dias para levar suprimentos. “Tem alguns picos de ansiedade, muita vontade de rever os amigos e sair, mas procuro ao máximo me controlar, ter esse cuidado, essa paciência”, relata, contando que criou um “diário da caverna”, no qual publica na rede social temas relacionados à pandemia ou ao seu dia a dia.
Segundo o professor, a nova rotina trouxe ainda mais trabalho: “nunca me vi trabalhando tanto na minha vida quanto nesse tempo. Há essa possibilidade de poder usar o tempo de uma maneira mais estendida, mais de acordo com as minhas possibilidades”.
Com isso, ele conta que é possível fazer seu próprio horário. “Posso ler e escrever bastante, então, escrevi três livros, um deles já foi publicado. Acho que esse também é um ponto importante no meu caso, porque tenho uma vida basicamente de trabalho intelectual, mas acho que pode ser um sinalizador para outras pessoas, para que procurem no seu espaço de reclusão, atividades que também sejam prazerosas e que sejam boas para elas”, conclui.
QUARENTENA
O Governo de São Paulo determinou quarentena em todos os 645 municípios do Estado no dia 24 de março de 2020. A princípio, o decreto determinava apenas 15 dias, impondo o fechamento do comércio, exceto serviços essenciais de alimentação, abastecimento, saúde, bancos, limpeza e segurança.
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