O analista político Ítalo Lorenzon, responsável pelo canal Terça Livre, fez uma análise do cenário brasileiro, comentou sobre o que se convencionou chamar no país de direita e esquerda e a relação da igreja e do poder.
Confira trechos da entrevista:
Como analisa a atual conjuntura política do Brasil?
Se você fizer essa pergunta para a maioria dos analistas políticos, principalmente os que atuam na grande mídia, a resposta virá quase sempre do tema “polarização política”. No meu entendimento, essa visão é incompleta. A polarização não é coisa recente no Brasil, mas reflete o próprio modo como a nossa república se reformulou durante os anos 80.
Fazendo uma breve retrospectiva, o processo político da Constituinte e das décadas a seguir foram dominadas por três partidos e seus satélites: o PT, o PSDB e o PMDB. Quando rigorosamente nenhum desses três partidos representa bem os ideais da população brasileira, majoritariamente conservadora até hoje, a polarização nasce aí e a tensão está fadada a gerar alguma ruptura. É o que estamos assistindo hoje.
A divisão de parte dos eleitores, que se convencionou dividir entre comunistas e fascistas, é uma realidade?
Sou particularmente contrário ao uso do termo “fascista” no Brasil. Trata-se de um termo técnico das ciências sociais e, recentemente, vem sendo usado como xingamento, o que esvazia o seu sentido. Não há nenhum grupo político organizado e relevante no Brasil que possa ser descrito como “fascista”.
O termo “comunista” também é preciso ser compreendido de maneira técnica. Muita gente ainda acredita que o termo possa ser aplicado a alguém que, meramente, acredita no ideal comunista quando, desde o século XIX, o próprio movimento comunista já insistia em usar o termo apenas para os seus membros, mesmo aqueles que não fossem perfeitamente sinceros em relação aos seus ideais.
Isso tudo passa ao largo da discussão política hoje em dia, infelizmente.
Você acredita que a direita está bem representada no país?
Se com “direita” entendemos o ideal conservador de uma população majoritariamente cristã, certamente não. Explorando um pouco mais a resposta anterior, nosso período de redemocratização foi praticamente coordenado por três partidos que deram uma impressão de pluralidade: PT, PSDB e PMDB. O PT e o PSDB polarizando entre si, mas ambos com matizes de esquerda e o PMDB, que desde o período militar era lotado por quadros oriundos do Partido Comunista, fazendo o papel do neutralizador. Claro que é possível haver indivíduos de direita em partidos que, efetivamente, não o são, mas seu poder de ação é bastante reduzido.
A divisão entre a Igreja e o Estado é importante?
Sim, mas há muita confusão na matéria. A divisão entre Igreja e Estado serve para proteger a Igreja da influência do Estado e não o contrário. Há uma percepção de que o laicismo seja uma forma de “ateísmo público”, ou seja, o cidadão tem o direito de ter uma religião, mas deve se comportar pública e politicamente como se não acreditasse. No meu entender, num país majoritariamente cristão, isso é extremamente prejudicial à democracia.
A ideia de um salvador, seja ele de esquerda ou de direita, não atrapalha o movimento da própria democracia?
Não acho que o problema esteja na ideia de um líder carismático (um “salvador”), mas na falta de capacidade de discernimento. Um líder carismático pode ser benéfico ou deletério, dependendo de como a população se deixa levar pelo seu carisma, se para lidar com uma ameaça real ou uma inventada. Hitler era um líder carismático que inventou uma conspiração judaica para conduzir o povo alemão ao totalitarismo. Winston Churchill era um líder carismático que uniu o povo britânico contra uma ameaça real: o próprio Nazismo de Hitler. O contexto importa.